Cresci na Rua Dias da Rocha, em Copacabana, entre os anos 60/70 e, nesta época, ainda menino, podia sair de casa para comprar sorvete e balas na carrocinha Kibon da esquina, pães doces e sonhos na Confeitaria GB, gibis e figurinhas na banca de jornal, carrinhos Matchbox e aviões da Revell na Casa Mattos e até depositar um ou outro cheque para os meus pais no Banco Real de Minas Gerais, em outra esquina.
Tínhamos, um pouco mais longe, na Rua Domingos Ferreira o Bob’s (o primeiro da rede) a Pizzaria Caravelle e o Restaurante Nino’s, o Mercadinho Azul, o Casas da Banha da Siqueira Campos e os cinemas de rua, como o Rian, na Atlântica, o Metro, o Art, o Copabacana, o Roxy e o Caruso, todos na Nossa Senhora de Copacabana.
As pessoas em geral, comerciantes, vizinhos, porteiros se conheciam, se falavam e se cumprimentavam e sabiam de onde você era, qual seu quarteirão, sua rua e, às vezes, até qual o seu prédio.
Infelizmente, isso mudou muito e acredito que tenha a ver com o crescimento da cidade e com o aumento da violência urbana.
Ao me mudar para Paris, depois de trinta e dois anos voltando apenas como turista e portanto, sem olhos de morador e, para piorar mais ainda, em outro “arrondissement” ao qual eu ainda não tinha a menor intimidade, o 5º - eu havia morado antes, bem mais jovem, no 16º.
Ao começar a ter que explorar a área, fui me surpreendendo com coisas que poderia supor de cidades pequenas, do interior, mesmo. Ao fazer coisas simples como cortar o cabelo, ir aos correios e à farmácia foram curiosas porque as pessoas me perguntaram se eu era novo no “quartier” (uma área de alguns quarteirões, por assim dizer).
Os guardadores de automóveis de restaurantes, os donos de comércios, feirantes, todos sabem, de uma forma ou de outra, que são os moradores de determinado “quartier”.
Imaginem o meu espanto: afinal Paris recebe anualmente milhões de turistas, fora a sua população de mais de 2 milhões de habitantes em seus vinte “arrondissements”.
Essa é uma sensação incrível, diferente do que vemos hoje no Rio, São Paulo e até cidades menores como Belo Horizonte ou Curitiba.
Essa proximidade com a vizinhança me lembra a infância que tive, bem mais solta do que a nossos filhos e netos têm hoje nas grandes cidades brasileiras. Uma pena termos perdido isso na maioria das grandes cidades do Brasil.
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