sábado, 28 de fevereiro de 2015

Madonna diz que França atual lembra Alemanha nazista

Madonna no Grammy (Foto: John Shearer/AP)

A cantora americana Madonna afirmou estar apavorada com a "crescente intolerância" que reina na França, que lembra a da Alemanha nazista, disse em entrevista à emissora francesa "Europe 1".

"Toda essa gente, toda essa intolerância crescente, isso é espantoso, e não afeta só à França, mas a toda Europa", disse na entrevista, que foi transmitida ontem (27), mas que teve alguns trechos liberados previamente pela rádio nesta quinta-feira.

Madonna disse perceber o retorno do antissemitismo dentro de um "ambiente de extremo medo", e que fica aterrorizada com "esta época loucura que atravessamos e que me faz pensar na Alemanha nazista".

A Rainha do Pop lembrou sua apresentação no Olympia, em Paris, em 2012, onde criticou a popularidade do partido ultradireitista Frente Nacional.

"A França foi o primeiro país a aceitar as pessoas de cor, que acolheu artistas como Josephine Baker e Charlie Parker", mas, "infelizmente esse espírito desapareceu completamente".

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Picasso roubado em Paris é recuperado nos EUA e volta para o Pompidou




O Centre Pompidou, em Paris, espera colocar novamente em exposição no final de maio uma obra-prima de Picasso recentemente encontrada em Nova York.

"La Coiffeuse", pintada em 1911 e de propriedade do governo francês, desapareceu do museu de arte moderna em 2001. Ela foi guardada em 1998 e os funcionários só perceberam o sumiço após receber um pedido de empréstimo de outra instituição três anos depois.

Na última quinta-feira, a promotora Loretta Lynch anunciou que o "tesouro perdido" havia sido encontrado e que ela estava iniciando um processo para que fosse devolvido a França.

A pintura, avaliada em mais de R$ 6,6 milhões (ou £ 1,5 milhão), foi encontrada dentro de um pacote marcado como “Happy Christmas – art craft/toy: value $37”, em Nova Jersey .

O pacote havia sido enviado via Fedex de um endereço na Bélgica em 17 de dezembro sob o nome "Robert". O quadro teria sido enviado para um armazém com temperatura controlada em Long Island, segundo o New York Times, mas foi apreendido pela alfândega quando chegou a Newark.

Dois especialistas do museu francês viajaram a Nova York no mês passado e confirmaram que aquela era a pintura perdida. Até o momento, ninguém foi preso.

O trabalho foi doado ao governo francês em 1966 por George Salles, ex-diretor dos museus da França. Ele ficou em exibição pela última vez em 1996, em Munique. Quando voltou para Paris, foi armazenado no Pompidou.

Alain Seban, diretor do Pompidou, disse que todos estão animados com esse "final feliz" para as buscas. Ele expressou "profunda gratidão" aos serviços de alfândega dos EUA e da França.

Centenas de trabalhos de Picasso estão listados no Registro de Arte Perdida, um serviço baseado em Londres. Em 1989, ladrões levaram 12 quadros avaliados em mais de 23 milhões de euros (cerca de R$ 74 milhões) da casa de uma das netas do pintor. Outros dois, avaliados em cerca de €70 milhões (R$ 224 milhões), foram levados casa de outra neta em 2007.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

França bombardeia Estado Islâmico (EI) no Iraque

Caça francês decola do porta-aviões Charles de Gaulle no Golfo nesta quarta-feira (25) para realizar ataque contra o Estado Islâmico (Foto: Patrick Baz/AFP)

Caças Rafale do porta-aviões francês Charles de Gaulle lançaram pela primeira vez suas bombas, dois dias depois do envolvimento do porta-aviões nas operações da coalizão internacional contra o Estado Islâmico (EI) no Iraque, constatou um fotógrafo da AFP.

Dois dos quatro Rafale que decolaram pela manhã no norte do Golfo voltaram sem bombas ou com apenas metade de seu armamento inicial. Eles partiram com quatro bombas cada um, guiadas por laser ou GPS.

O Charles de Gaulle, que zarpou no dia 13 de janeiro de Toulon (sul da França) para uma missão de cinco meses, permanecerá várias semanas no Golfo, ao lado do porta-aviões americano "Carl Vinson", como parte da coalizão internacional antijihadista dirigida pelos Estados Unidos, indicou uma fonte militar francesa.

Com doze aviões de combate Rafale e nove Super Étendard a bordo, Paris vai duplicar seu dispositivo aéreo na região, que contava com nove Rafale nos Emirados Árabes Unidos e seis Mirage 200D na Jordânia.

A França lançou em meados de setembro a operação Chammal no Iraque. Desde então, seus aviões realizaram missões de reconhecimento e bombardeios no país para apoiar o exército local e os peshmergas curdos que combatem o EI, indicou uma fonte próxima a Le Drian.

O país é, junto à Austrália, um dos que fornece mais efetivos à coalizão de 32 países, embora sejam os Estados Unidos que realizam a maioria dos ataques aéreos.

Desde agosto de 2014, a campanha militar internacional se traduziu em mais de 2.000 bombardeios no Iraque e na Síria. Os caças franceses só intervêm no Iraque porque Paris considera que uma operação na Síria pode reforçar o regime de Bashar al-Assad frente aos rebeldes.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

França mobiliza porta-aviões contra Estado Islâmico no Iraque



A França mobilizou nesta segunda-feira (23) no Golfo seu porta-aviões Charles de Gaulle, como parte das operações da coalizão internacional contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) no Iraque.

"A integração do Charles de Gaulle na operação (francesa) Chammal (no Iraque) começa nesta manhã", declarou à AFP um colaborador próximo ao ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian.

Os primeiros aviões de combate Rafale decolaram pela manhã do Charles de Gaulle, que avança a uma velocidade de cruzeiro de 120 milhas náuticas (200 km/h) ao norte do Bahrein, no Golfo, a caminho do Iraque.

A partir de sua nova posição, os aviões franceses poderão alcançar seus alvos em uma hora e meia de voo, a metade em comparação com a base de Al-Dhafra, nos Emirados, utilizada pela Aviação francesa.

O Charles de Gaulle, que zarpou no dia 13 de janeiro de Toulon (sul da França) para uma missão de cinco meses, permanecerá várias semanas no Golfo, ao lado do porta-aviões americano "Carl Vinson", como parte da coalizão internacional antijihadista dirigida pelos Estados Unidos, indicou uma fonte militar francesa.

Com dois aviões de combate Rafale e nove Super Étendard a bordo, Paris vai duplicar seu dispositivo aéreo na região, que contava com nove Rafale nos Emirados Árabes Unidos e seis Mirage 200D na Jordânia.

A França lançou em meados de setembro a operação Chammal no Iraque. Desde então, seus aviões realizaram missões de reconhecimento e bombardeios no país para apoiar o exército local e os peshmergas curdos que combatem o EI, indicou uma fonte próxima a Le Drian.

O país é, junto à Austrália, um dos que fornece mais efetivos à coalizão de 32 países, embora sejam os Estados Unidos que realizam a maioria dos ataques aéreos.

Desde agosto de 2014, a campanha militar internacional se traduziu em mais de 2.000 bombardeios no Iraque e na Síria. Os caças franceses só intervêm no Iraque porque Paris considera que uma operação na Síria pode reforçar o regime de Bashar al-Assad frente aos rebeldes.

2.000 homens a bordo
Os bombardeios buscam deter o avanço do EI destruindo depósitos de munições, veículos e os poços de petróleo que controlam, a maior base financeira do grupo jihadista.

Os países da coalizão, que excluem enviar tropas terrestres à zona, também lançaram missões de aconselhamento e treinamento do exército iraquiano, que demonstrou incapacidade para enfrentar o EI no último verão (do hemisfério norte).

O Estado-Maior norte-americano espera que as forças iraquianas estejam em condições de lançar uma ofensiva terrestre na cidade estratégica de Mossul (norte) entre abril e maio, antes do Ramadã e dos calores extremos do verão.

O Charles de Gaulle, autêntica base aérea flutuante, contará com o apoio de um submarino nuclear de ataque, de uma fragata de defesa antiaérea (Chevalier Paul) e de outra antissubmarina (a britânica Kent), assim como de um navio petrolífero para abastecimento. A operação envolve 2.700 marinheiros, entre eles 2.000 a bordo do porta-aviões francês.

A França tem 3.500 soldados na missão Chammal, tantos quanto na operação Barkhane em vários países da África subsaariana (Mali, Mauritânia, Níger, Chade e Burkina Faso), outro importante cenário da luta contra o jihadismo.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Drones sobrevoam Paris durante a madrugada



Segundo a France Presse, pelo menos cinco drones foram avistados na madrugada desta terça-feira (24) sobrevoando diferentes pontos de Paris, mas no momento as autoridades não sabem quem está por trás das ações.

O primeiro drone foi observado perto da embaixada dos Estados Unidos pouco depois da meia-noite
e uma fonte ligada às investigações explicou que "também foram sobrevoados a Tour Eiffel, Invalides e a Place de la Concorde".
- "Pode ser uma ação coordenada, mas no momento não sabemos de mais nada", disse.

Durante a noite foram mobilizados diferentes unidades da polícia, sem sucesso.
- "Fizemos de tudo para tentar interceptar os pilotos, mas não foram detectados", disse outra fonte.

No dia 16 de janeiro, o Palais de l'Elysée foi sobrevoado por um drone, "mas nunca haviam sido observados tantos drones em uma noite", afirmou uma fonte policial.

Nos últimos meses também foram observados vários drones perto de instalações nucleares francesas, mas as autoridades não conseguiram descobrir quem pilotava os aparelhos.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O sensacional metrô de Paris




















Confesso que há muitos anos deixei de ser usuário do metrô aqui em Paris, muito mais por uma frescura do que por conta do serviço, que é excepcional. Acontece que gosto tanto de ver a cidade que prefiro andar a pé ou em qualquer outro meio que seja de superfície.


O Métropolitain de Paris, que era chamado antigamente de Chemin de Fer Métropolitain, serve Paris e suas cidades vizinhas na “agglomération parisienne” com 16 linhas: as de 1 a 14 (esta última é completamente automática, ou seja, não tem motorista de cabine) e ainda duas linhas menores, a 3bis e a 7bis, que se separam das linhas originais 3 e 7.

O serviço foi inaugurado com a Linha 1, em 19 de julho de 1900, após décadas de discussões políticas sobre as rotas e construção, para servir a l’Exposition Universelle daquele ano – sendo que seu trajeto se limitava entre Porte Maillot à Porte de Vincennes.

Ainda em 1900 pequenas seções das atuais linhas 2 e 6 foram completadas sendo que hoje o Metrô de Paris é o quarto maior sistema de metropolitano da Europa Ocidental, após o Metropolitano de Londres, o Metropolitano de Moscou e o Metropolitano de Madrid.

Com cerca de 213 km de linhas, mais de 300 estações e um movimento diário superior a cinco milhões de passageiros, um dos seus aspectos mais famosos são suas 86 entradas em estilo Art Nouveau de Hector Guimard que ainda permanecem em utilização e que tão bem simbolizam Paris.

Diz-se que a distância média entre uma estação e outra (mesmo de linhas diferentes) é sempre de aproximadamente 300m e uma segunda rede de linhas expressas regionais, a RER (Réseau Express Régional), complementa a rede original do metrô desde a década de 1960.

Assista aqui a evolução da malha do Metrô de Paris desde 1900 até os dias de hoje:
https://www.youtube.com/watch?v=aoUwQ6cN-oc

Veja aqui o mapa completo do Metrô de Paris - inclui ruas, RER e Tramway:
www.ratp.fr/informer/pdf/orienter/f_plan.php?nompdf=metro_geo&loc=secteur&fm=pdf  

domingo, 22 de fevereiro de 2015

França confisca passaportes de supostos aspirantes a entrar na jihad



O Governo Francês confiscou os passaportes e documentos de identidade de seis franceses que se preparavam para viajar à Síria, uma medida aplicada pela primeira vez na França e que poderia ser estendida a outros 40 potenciais aspirantes a entrar na "jihad".

"Se cidadãos franceses saem do país para cometer atos de violência no Iraque e na Síria, em seu retorno serão um perigo ainda maior" e poderiam "cometer atos terroristas", explicou nesta segunda-feira (23) o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, que disse tentar evitar o retorno de jihadistas "animados apenas por instintos de violência".

O confisco do passaporte é a primeira medida de proibição de saída do território francês aplicada desde a adoção, em novembro passado, de uma lei para combater as viagens de jihadistas para regiões de combate.

As carteiras de identidade e os passaportes dos seis homens, com idades entre 23 e 28 anos de idade, foram confiscados por um período de seis meses, renovável por dois anos. As pessoas afetadas pela medida recebem em troca um recibo, segundo uma fonte próxima ao caso.

Os serviços de inteligência consideraram que essas pessoas se preparavam para deixar o território francês "de maneira iminente" para a Síria. Alguns deles já haviam viajado para esse país, acrescentou a fonte.

Segundo estimativas oficiais, a França é um dos principais países ocidentais de onde vêm os "jihadistas" estrangeiros na Síria.

Desde os ataques de Paris, que deixaram 17 mortos em janeiro, a França redobrou os esforços para tentar evitar essas partidas.

'Jovens e convertidos'
Estão em preparação 40 proibições para deixar o território, anunciou Cazeneuve durante uma coletiva de imprensa, acrescentando que a ação das autoridades a esse respeito deverá se intensificar "nas próximas semanas".

Sobre as características das pessoas envolvidas até o momento, o ministro disse que tratam-se, essencialmente, de jovens e de "20% convertidos" ao islamismo.

Como na Inglaterra, país que ficou chocado com a viagem para a Síria de três adolescentes de "boa família", os testemunhos dos pais de jovens que escolheram a jihad violenta se multiplicando, e mostram que estes provêm de vários meios sociais diferentes. As famílias se dão conta aos poucos de sua impotência diante de uma radicalização brutal e irreversível.

Os pais de um jovem de 19 anos, Pierre Choulet, declararam na semana passada sua incompreensão diante da transformação de seu filho, fã de futebol de uma pequena cidade do leste da França, que cometeu um atentado suicida no Iraque após se juntar ao grupo Estado Islâmico (EI).

Nas últimas semanas, as autoridades francesas realizaram vários ações antijihadistas: seis supostos membros de uma rede foram presos no início de fevereiro em Toulouse (sul), poucos dias após a detenção, pelas mesmas razões, de outras oito pessoas nas regiões de Paris e Lyon (leste).

De acordo com o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, cerca de 1.400 franceses ou residentes na França "estão em contato" com as redes jihadistas.

De acordo com especialistas, os bombardeios ocidentais contra posições do EI são uma das motivações para aprendizes de jihadistas de todo o mundo, que se reúnem em números cada vez maiores às fileiras da organização extremista.

"A tendência é clara e preocupante. O número de combatentes estrangeiros que viaja à Síria não tem precedentes", destacou recentemente em Washington Nicholas Rasmussen, diretor do centro americano de luta antiterrorista, evocando voluntários procedentes de mais de 90 países.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Vítima de racismo de torcedores do Chelsea no metrô de Paris diz que se sentiu "perdido"

Souleymane, o homem que foi vítima de atos de racismo por parte de torcedores do Chelsea (Foto: Patrick Kovarik/AFP)

Souleymane, vítima do incidente racista protagonizado por torcedores do Chelsea no metrô de Paris, disse ontem (20) em entrevista à AFP que estava "orgulhoso" da repercussão do caso e esperava uma "conscientização" da sociedade.

"Muitas pessoas de cor enfrentam este tipo de incidentes. Isso precisa parar", sentenciou o franco-mauritano de 33 anos, que não quer divulgar o sobrenome para evitar expor sua família.

O incidente foi flagrado em um vídeo gravado na última terça-feira, poucas horas antes da partida do Chelsea contra o Paris Saint-Germain, pelas oitavas de final da Liga dos Campeões.

Nas imagens, divulgadas no site do jornal "The Guardian", é possível ver um grupo de torcedores dos "Blues" empurrando com força duas vezes um homem negro que tentava subir no vagão de metrô, aos gritos de "Somos racistas, somos racistas e gostamos disso".

A vítima já prestou queixa numa delegacia da capital francesa, e o ministério público de Paris abriu uma investigação, recebendo logo em seguida o apoio de Scotland Yard.

"Espero que um caso como esse ajude a sensibilizar as pessoas, para que haja uma verdadeira conscientização", afirmou Souleymane.

'Perdido'
"Quando fui empurrado para fora do metrô, me senti perdido, estava totalmente perdido. Entendi na hora que tratava-se de um ato racista, mas o que poderia fazer?", lamentou.

"Hoje, ainda estou com raiva. Já fui vítima de várias ofensas racistas nos últimos anos, mas, felizmente, desta vez, alguém filmou a cena", lembrou o pai de família, que tem três filhos e mora no Val D'Oise, distrito do subúrbio de Paris.

"Se o vídeo não tivesse sido divulgado, eu teria que engolir minha raiva, como sempre. Agora, quero que justiça seja feita", completou.

"Queremos que o caso seja julgado na França. Precisa virar um exemplo, para que as pessoas comecem a refletir sobre suas atitudes e o impacto de suas declarações", pediu Jim Michel-Gabriel, advogado da vítima.

O Chelsea já identificou cinco suspeitos de ter participado do ato racista. Eles foram proibidos de entrar no estádio Stamford Bridge por tempo indeterminado, e correm risco de serem banidos para sempre.

O incidente gerou inúmeras reações de repúdio no mundo do futebol e da política, sendo condenado, entre outros, pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, ou o premiê britânico, James Cameron.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Há 106 anos o Le Figaro publicava o Manifesto Futurista



No dia 20 de fevereiro de 1909 o poeta italiano Emilio Marinetti publicou no "Le Figaro" primeiro de 11 artigos anunciando uma nova orientação nas artes. De espírito anarquista, "Manifesto" continha sementes do fascismo.

"O combate a todos os velhos valores. Por uma nova estética". Esta foi a decisão tomada por um grupo de pintores e escritores italianos depois de uma noite de farra. Uma louca corrida de carro contra o sol nascente selaria o nascimento de uma nova aliança artística. A viagem terminou numa valeta, mas a ideia foi colocada no papel e publicada no jornal Le Figaro, em 11 artigos.

"Declaramos que o esplendor do mundo enriqueceu com uma nova beleza: o deslumbramento da velocidade. Nenhuma obra-prima sem o devido momento de agressividade. Pretendemos destruir os museus e as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas que buscam o proveito."

Radicalismo estético

O futurismo foi um conceito estético radical para todos os setores da vida cultural, criado pelo jornalista e escritor italiano Emilio Filippo Tommaso Marinetti. Ele glorificava as guerras, a agitação da vida moderna, a paixão pelas máquinas, fábricas e velocidade. Os futuristas pregavam a "liberdade para a palavra". Seus representantes abusavam de frases exclamativas, insultos e pretendiam acabar com hábitos culturais considerados retrógrados.

Para os futuristas, os objetos não se esgotavam no contorno aparente e seus aspectos se interpenetravam continuamente – ao mesmo tempo ou vários tempos num só espaço. Procurava-se expressar o movimento real, registrando a velocidade descrita pelas figuras em movimento no espaço.

O futurista não se preocupava em pintar um automóvel, mas captar a forma plástica, a velocidade descrita por ele no espaço. Os objetos eram mostrados de uma forma que normalmente não se podia ver: um rosto, por exemplo, de frente e perfil ao mesmo tempo. Nas artes plásticas, o futurismo foi o ponto de partida de várias orientações, como o cubismo, surrealismo e o construtivismo. As poesias futuristas usavam uma linguagem radical, com economia de palavras. Essa técnica seria reproduzida mais tarde no dadaísmo.

Inspiração para o fascismo

O futurismo encontrou simpatizantes em toda a Europa e em todas as áreas, inclusive na gastronomia. O porta-voz oficial da nova orientação era a revista Poesia, publicada por Marinetti. Mas o que na área cultural parecia uma febre inofensiva dos artistas, foi fatal na política. As ideias dos futuristas, recheadas de idolatria à violência, ao militarismo e ao patriotismo, em parte foram introduzidas em programas fascistas. A guerra chegava a ser vista como uma "higiene do mundo".

Apesar de claramente antifeminista, o futurismo também atraiu mulheres. A escritora Valentine de Saint-Point chegou a publicar um manifesto da mulher futurista, que não ficou atrás do dos homens em termos de agressividade: "O que mais falta às mulheres, assim como aos homens, é a masculinidade. E para conferir mais masculinidade às nossas raças, fixadas na feminilidade, é preciso confrontá-las com a brutalidade. É preciso impor um novo dogma da energia aos homens e mulheres, para que a civilização finalmente atinja um nível mais alto."

Nos campos de batalha da Primeira e Segunda Guerra Mundial, muitos futuristas foram confrontados com o alcance de suas palavras. Foram obrigados a lutar, ficaram feridos, perderam a vida. Ainda aos 65 anos, Enrico Marinetti lutou às portas de Stalingrado. Gravemente doente, retornou para casa, onde morreu a 2 de dezembro de 1944. E justamente aqueles que Marinetti inspirara com sua nova estética criaram outro nome para o futurismo: "arte degenerada".

No Brasil, modernistas influenciados pela corrente futurista negavam o posicionamento favorável às guerras. Chamado de "poeta futurista" em artigo de Oswald de Andrade, Mário de Andrade admitiu "pontos de contato com o futurismo", mas negou o título, temendo ser considerado fascista.

Com informações da Deutsche Welle.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Talus Taylor, criador de ‘Barbapapa’, morre em Paris

Familia Barbapapa

Os fãs de “Barbapapa” ficaram órfãos. Talus Taylor, norte-americano co-criador da série, faleceu hoje, aos 82 anos, em Paris.

Taylor criou a obra nos anos 1970 com sua mulher, Anette Tison. O sucesso de Barbapapa, Barbamama e seus sete filhos (Barbalala, Barbabelle, Barbotine, Barbidur, Barbibul, Barbidou, e Barbouille) foi maior do que eles esperavam — as aventuras da família foram traduzidas para mais de 30 línguas. Diante do sucesso editorial do grupo de seres amorfos e coloridos, a produção virou até série de TV.

O nome do desenho é uma referência a “barbe à papa”, algodão doce, em francês. A semelhança do chefe familiar da série com a sobremesa é inegável. Uma das ilustradoras da série, Joann Sfar, rendeu sua homenagem a Taylor nas redes sociais (abaixo).


Ver imagem no Twitter

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Fãs do Chelsea impedem homem negro de embarcar no metrô de Paris



Um homem negro foi impedido de embarcar no metrô de Paris por torcedores do Chelsea, que cantavam "somos racistas". O incidente, filmado na noite de ontem (17) antes de uma partida da Liga dos Campeões, causou indignação geral e será investigado pela justiça francesa.

O vídeo, publicado no site do jornal inglês The Guardian, foi gravado por Paulo Nolan, cidadão britânico que mora na capital francesa, na noite de terça-feira, 16h30 no horário de Brasília, quando torcedores do clube londrino estavam se dirigindo ao estádio Parque dos Príncipes para assistir ao jogo contra o Paris Saint-Germain.

Nas imagens, é possível ver um grupo de torcedores dos Blues empurrando com força duas vezes um homem negro que tentava subir no vagão de metrô, aos gritos de "somos racistas, somos racistas e gostamos disso."

Poucas horas depois da divulgação do vídeo, o ministério público de Paris abriu uma investigação por "violências intencional por motivos raciais num meio de transporte coletivo", informou uma fonte judicial.

Na Inglaterra, a Scotland Yard ofereceu sua colaboração às autoridades francesas e declarou que pretendia "analisar o vídeo" para avaliar "se teria condições de proibir estas pessoas de acessar a estádios ou se deslocar para jogos fora do país no futuro."

Nas imagens do vídeo, os rostos dos torcedores são claramente identificáveis.

"Não há lugar para o racismo"
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, condenou na sua conta do Twitter "as ações de um pequeno grupo de torcedores do Chelsea", e ressaltou que "não há lugar para o racismo no futebol."

Ele aproveitou para condenar também declarações polêmicas do ex-técnico Arrigo Sacchi, que causou escândalo na terça-feira ao declarar que "há negros demais nas categorias de base" nos clubes do seu país. "Fiquei chocado com os comentários de Arrigo Sacchi", publicou Blatter.

Outro caso de racismo também foi observado recentemente no metrô de Londres, quando uma mulher foi flagrada num vídeo discutindo um homem negro e gritando "você tem um problema porque vocês costumavam ser escravos."

Diante de mais um caso envolvendo cidadãos do seu país, o premiê britânico, David Cameron, considerou as imagens do metrô de Paris "extremamente perturbadoras e preocupantes."

"É claramente um crime potencial e tenho certeza que a polícia francesa vai levar isso muito à sério. Sei que a polícia britânica vai fornecer toda a ajuda possível. São fatos muito, muito graves", lamentou Cameron, em entrevista à rádio londrina LBC.

A classe política francesa também expressou sua indignação. O Partido Socialista, legenda do presidente François Hollande, "condenou" o acidente, e lançou um apelo para que as autoridades do futebol lutem contra o racismo e o antissemitismo, além de elogiar a "rápida reação do ministério público."

Nathalie Kosciusko-Morizet, vice-presidente do partido de direita UMP, de oposição, condenou no Twitter o "comportamento intolerável de torcedores do Chelsea no metrô: racismo e segregação."

"Comportamento vergonhoso"
A ONG SOS racisme considerou o incidente "preocupante" e voltou a pedir a criação de uma "comissão europeia independente de disciplina."

O próprio Chelsea condenou o "comportamento vergonhoso" de parte dos seus torcedores.

O clube londrino, que tem vários jogadores negros no seu elenco, inclusive os brasileiros Willian e Ramires, afirmou que iria "tomar medidas fortes e proibir o acesso ao estádio" caso pessoas envolvidas sejam membros do programa de sócio-torcedor do clube.

Já o presidente do PSG, o catariano Nasser Al-Khelafi "condenou com firmeza este ato intolerável."

A UEFA, que organiza a Liga dos Campeões, também mostrou-se indignada, mas ressaltou que os incidentes não eram da sua responsabilidade por terem acontecido longe do estádio.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Morre Louis Jourdan, um dos vilões em '007'

O ator Louis Jourdan em foto de 8 de março de 1984 (Foto: AP Photo)

O ator francês Louis Jourdan, que fez carreira em Hollywood após a Segunda Guerra Mundial e protagonizou filmes como 'Gigi', morreu em sua casa em Beverly Hills aos 93 anos, informou neste domingo (15) seu biógrafo, Olivier Minne.

O ator, que fez papéis de galã francês quando era mais novo e depois se especializou nos vilões sofisticados, trabalhando com artistas da envergadura de Brigite Bardot e Maurice Chevalier, morreu de causas naturais, segundo seu biógrafo oficial, que foi o encarregado de anunciar sua morte.

Nascido em Marselha no dia 19 de junho de 1921, Jourdan se educou na França, na Inglaterra e na Turquia e estudou interpretação na famosa escola de Arte Dramática de René Simon.

Quando jovem, trabalhou em várias comédias românticas e dramas em seu país, mas durante a ocupação alemã, depois que seu pai foi detido pela Gestapo, se negou a participar em filmes com propaganda nazista.

Em 1948, o produtor e roteirista David O. Selznick o convidou para participar de uma produção de Hollywood em 'Agonia de Amor', dirigida por Alfred Hitchcock e protagonizada por Gregory Peck e Ann Todd, filme no qual interpretou um papel secundário.

A partir daí, se transformou em um rosto habitual dos filmes da era dourada de Hollywood, fazendo papéis de galã francês e trabalhando junto com atrizes como Gina Lollobrigida, Joan Fontaine, Marie Laforet, Grace Kelly e Shirley MacLaine.

Entre os filmes que protagonizou se destacam o musical 'Gigi' (1958), 'Can-Can' (1960), 'A Vingança de Monte Cristo' (1961), 'Feita em Paris' (1966), 'Julie' (1956), na qual fazia papel de vilão, e 'To Die in Paris' (1968), entre muitas outras.

Já mais velho, começou a fazer papéis de vilão, como no filme '007 Contra Octopussy' (1983), da saga de James Bond, e em 'O Homem da Máscara de Ferro' (1977), com Richard Chamberlaine.

Em 2010 recebeu a Legião de Honra, a máxima condecoração da França. Sua esposa, Berthe Frederique Jourdan, com quem esteve casado por mais de 60 anos, morreu no ano passado.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

CarnaParis



Me perdoem o atraso – mais um, eu sei – mas este carnaval e seu apêndice de semana se mostrou uma maratona com uma enxurrada de amigos vindos do Brasil. Aliás, tinha tanta gente conhecida que mais parecia bloco de cidade de interior, uma verdadeiro CarnaParis, numa espécie de homenagem aos carnavais fora de época no Nordeste - que apesar de ter sido na época certa, não teve um bloquinho, uma festinha, um sambinha, enfim, nada que nos lembrasse, nem de muito longe, a folia brasileira.

Os amigos que aqui desembarcaram nesta pequena revoada de brasileiros me deixaram numa completa roda-viva de almoços, jantares, drinks e cafés desde a sexta-feira passada e por isso foi impossível pensar numa crônica pertinente.

O que posso garantir é todos, juntos ou separados, me fizeram ver como é bom contar com pessoas diferentes em nossas relações, pessoas que não sejam iguais ou pasteurizadas.

Um dos ilustres visitantes é um dos meus melhores e mais antigos amigos, daqueles que ao longo da vida já esteve comigo em todas as fases, das mais alegres às mais tristes e ficou hospedado aqui em casa, sem dar trabalho algum: arrumava sua cama e lavava sua louça.

O único problema – para a minha mulher, é claro – é que ele só pensa em duas coisas: mulheres mais novas e mulheres mais velhas, portanto toda sua atenção foi voltada às atividades que pudessem ajudá-lo a conhecer o outro sexo: foi a bares, boates, lojas e ainda me carregou para a Disneyland Paris.

Uma outra amiga presente as atividades do Carnaparis é uma mulher sofisticada, cosmopolita, com amigos espalhados pelo mundo e ainda por cima tem como namorido um cara sensacional que, infelizmente teve que trabalhar em Berlim no mesmo período.

Duas outras queridas amigas estiveram aqui com o namorado de uma delas e mais uma amiga – que eu não conhecia, mas adorei os dois – e tivemos um encontro sensacional, tipicamente carioca, com direito a risos e gargalhadas a noite toda.

Depois encontrei com um casal de São Paulo que amo, ele meu amigo de muitos anos desde meu passado de publicitário e ele de produtor de filmes e comerciais e, por coincidência, o último participante do CarnaParis também é produtor de filmes e comerciais, mas do Rio e meu amigo desde a adolescência.

Semana que vem, descansado, voltaremos à Margem Esquerda de sempre.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Jornalista com quipá grava em vídeo o antissemitismo de Paris



Pouco mais de um mês após um atirador matar quatro pessoas em um mercado judeu em Paris, em ataque que se seguiu ao massacre na redação do “Charlie Hebdo”, o jornalista Zvika Klein, do site NRG.co.fr, fez uma experiência para demonstrar o antissemitismo na capital francesa. Por 10 horas, ele caminhou normalmente pelas ruas, mas vestindo um quipá.

Um fotógrafo caminhou à frente de Klein, com uma filmadora escondida na mochila. O vídeo foi condensado em um pequeno clipe de 90 segundos, com situações claras de preconceito por motivação religiosa. No texto publicado com o vídeo no site noticioso, o jornalista descreve que, em um momento, um menino perguntou à mãe: “O que ele está fazendo aqui, mamãe? Ele não sabe que pode ser morto?”.

— Eu escrevo sobre antissemitismo na França há anos — disse Klein ao jornal francês “Local”. — Se eu quisesse, poderia escrever um artigo sobre o assunto todos os dias, sempre existe algum incidente. Eu só queria ver por mim mesmo.

A caminhada começou na Torre Eiffel, mas os insultos surgiram quando ele saiu dos centros turísticos e ingressou em bairros conhecidamente de maioria muçulmana.

“Em alguns momentos era como caminhar no centro de Ramallah. A maioria das mulheres estava vestindo véus ou hijab, a maioria dos homens pareciam muçulmanos, e o árabe era a língua prevalente”, descreveu Klein.

No vídeo, o jornalista mostra nove momentos em que foi insultado apenas por ser judeu. Ao passar por uma escola, ouviu o grito: “viva a Palestina”; numa rua ao cruzar com um grupo de pessoas, foi chamado de “homossexual”.

À BBC, críticos afirmaram que o vídeo passa uma falsa impressão, pois não informa a quem assiste que todas as cenas foram deliberadamente captadas em bairros pobres e de maioria muçulmana. Mas Klein discorda:

— Se eu estivesse andando com uma bandeira de Israel, eu entendo que poderia criar sentimentos negativos, mas não acho que vestir um quipá possa gerar algo assim — disse à BBC.

Assista aqui o filme: https://www.youtube.com/watch?v=AltyhmrIFgo



sábado, 14 de fevereiro de 2015

Philharmonie de Paris abre suas portas três décadas após sua concepção



O jornalista correspondente Fernando Eichenberg, de O Globo, publicou hoje uma excelente matéria no Globo Online sobre a nova Philharmonie de Paris, cujo espaço projetado por Jean Nouvel e que conta com uma sala de concertos que comporta 17 configurações acústicas. Segue a matéria:

"O projeto de criação de um importante complexo musical no Parc de La Villette, no norte da capital francesa, se tornou realidade mais de três décadas após sua concepção. Recentemente inaugurada, a Philharmonie de Paris surgiu com a pretensão do status de uma sala revolucionária para concertos e atividades paralelas. Desenhado pelo celebrado arquiteto Jean Nouvel e dotado de uma refinada acústica assinada pela prestigiada grife neozelandesa Harshall Day Acoustics, o espaço nasce com a ambição de se ilustrar tanto pela forma como pelo conteúdo.

A ideia germinada em 1981 para figurar entre as grandes realizações do governo François Mitterrand, inspirada pelo compositor Pierre Boulez, se concretizou neste início de 2015 após anos de oscilações entre o andante e o allegro ma non troppo. Com um orçamento inicial de cerca de € 170 milhões, a Philharmonie custou € 386 milhões aos cofres públicos. O concerto de abertura acabou ocorrendo uma semana após os atentados terroristas que abalaram a França, em janeiro, em cerimônia que contou com a presença do presidente François Hollande, mas marcada pela ausência anunciada de Nouvel, insatisfeito com a “precipitada” inauguração da sala que julgava inacabada.

Para o presidente da Philhamornie, Laurent Bayle, nada disso desafina a grandeza da obra, pensada como um espaço conectado à Cité de La Musique (renomeada Philharmonie 2), projeto de Christian de Portzamparc, com a proposta de “colocar o momento mágico do concerto no centro de muitas outras formas de apropriação musical”.

Na parte externa, 340 mil pássaros de alumínio cobrem as sinuosas formas arquitetônicas do prédio. O público poderá de uma certa maneira sobrevoar o entorno, graças à vista panorâmica disponível do topo da torre de 37 metros. Os espectadores motorizados têm a possibilidade de usar o estacionamento de 850 vagas, com acesso à bilheteria por meio de elevadores. No interior, a sala principal, vedete do projeto, é constituída de 2.400 lugares, com o palco ao centro. O espectador mais afastado da orquestra está localizado a uma distância de 32 metros, inferior à média entre 40 e 50 metros em outras salas do gênero.

— Há um efeito muito forte de intimidade musical e uma sensação de fluidez que faz da Philharmonie uma sala excepcional — garante Laurent Bayle. — Temos ao mesmo tempo o volume indispensável para as grandes orquestras e também, graças ao trabalho de Nouvel e do especialista em acústica Harold Marshall, a proximidade do espectador com o palco.

RENOVAÇÃO DE PÚBLICO

O projeto acústico, que contou também com a participação do renomado japonês Yasuhisa Toyota, levou três anos para ser afinado, e foi testado por meio da experimentação informatizada e da construção de uma minuciosa maquete. Em suas possibilidades de modelização de blocos e painéis flutuantes, a sala comporta 17 configurações acústicas.

Na mira da Philharmonie está o rejuvenescimento do público de música clássica, cuja metade ultrapassa os 61 anos de idade, segundo os resultados de uma pesquisa feita entre 2012 e 2014.

— O público não se renova em termos de gerações, é uma constatação feita também em outros países, e essa foi a nossa prioridade. Ofereceremos propostas pedagógicas, traduzidas na forma de cursos de história da música, por exemplo, mas poderá ser tanto na abordagem do clássico, do jazz, do rock... — explica o presidente da sala.

O complexo conta ainda com 17 espaços para ensaios, dez camarins, um estúdio de gravação, um espaço para exposições, um polo educativo de 2 mil m², um auditório para conferências de 200 lugares e dois restaurantes (um café no térreo e outro, mais completo, na área panorâmica). A programação seguirá uma “coluna vertebral histórica”, segundo ele, do fim da Idade Média à jovem criação contemporânea, mesclando com festivais de jazz, de música pop e world music. Nos fins de semana, haverá concertos matinais, vespertinos e noturnos, com a possibilidade de os pais deixarem as crianças em ateliês coletivos.

A Orquestra de Paris, dirigida por Paavo Järvi, e o Ensemble Intercontemporain, de Matthias Pintscher, serão os dois principais residentes da Philharmonie, que terá como hóspedes secundários Les Arts Florissants, a Orquestra de Câmara de Paris e a Orquestra Nacional da Île-de-France. Em janeiro, se apresentaram nomes como Hélène Grimaud, Lang Lang, Daniel Barenboïm e Gustavo Dudamel. Ao longo do semestre, estão previstas atrações como Tindersticks, Berliner Philharmoniker, London Symphony Orchestra, Philippe Découflé e Brad Mehldau.

— Teremos também exposições temporárias. Vamos abrir em março a grande mostra sobre David Bowie. No segundo semestre, haverá uma exposição sobre o pintor Marc Chagall (1887-1985) e sua relação com a música. Nosso espírito é o de maior abertura possível, tanto no meio profissional como no público amador — diz Bayle."

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Meia Maratona de Paris terá percurso invertido



Segundo o jornalista Iúri Totti, do Blog Pulso, os 43.500 corredores da Meia Maratona de Paris deste ano, no dia 8 de março, terão a experiencia de fazer a prova no sentido contrário das outras edições. O início será na Chateau de Vincennes na direção da Saint-Mandé e Porte Dorée. Os atletas vão cruzar Praça das Nações, a Rue du Faubourg Saint-Antoine e a Praça da Bastilha. Depois, passarão pelo Hotel de Ville, onde farão o retorno para a Praça da Bastilha. O fim da prova será na Chateau de Vincennes, após cruzar a Estrada da Pirâmide. A Meia Maratona de Paris é o segunda maior prova de rua da França, perdendo apenas para a Maratona, que este ano terá cerca de 50 mil inscritos.

O queniano Moses Mosop, que 59m20s como melhor marca, é visto como o favorito, mas terá que vencer os compatriotas Joel Kimurer (59m36s) e Vincent Yator (1h00m15s). Outro forte concorrente é o etíope Solomon Deksisa (1h00m12s). O marroquino naturalizado francês Abdelatif Meftah (1h00m46s) quer estar no pódio.

Na prova feminina, as quenianas Sarah Chepchirchir (1h08m07s) e Mercy Kibarus (1h08m18s) são as favoritas, mas as oponentes são as etíopes Yebrgual Melese (1h09m02s) e Frenchwomen Martha Komu (1h10m53s) e Laurane Picoche (1h11m45s).

Os recordes da Meia Maratona de Paris pertencem ao queniano Stanley Biwott (59m44s, em 2012) e a queniana Pauline Njeri (1h07m55s, em 2012).

Site oficial: www.semideparis.com

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Paris quer sediar Jogos Olímpicos de 2024



A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, disse nesta quinta-feira que a capital francesa está com "coração" para uma possível candidatura aos Jogos Olímpicos de 2024, mas precisa refletir mais depois que um estudo de viabilidade previu um custo de 6,2 bilhões de euros (20 bilhões de reais) para a organização do evento.

Paris, que ainda lamenta ter perdido para Londres na disputa pela sede dos Jogos de 2012, está entre várias cidades que desejam apresentar candidatura para 2024, incluindo Istambul, Budapeste, Berlim e Hamburgo. Boston e Roma já formalizaram suas candidaturas.

"Para ser um candidato aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos é muito importante que o tema seja impulsionado pelo entusiasmo e impaciência", disse a prefeita a repórteres e líderes da sociedade civil na apresentação do chamado "estudo de oportunidade", nesta quinta-feira.

"Eu tenho dito isso e vou dizer novamente, sim, temos um coração, o coração existe, e há razão, e a razão existe", acrescentou.

Bernard LaPasset, presidente do Comitê Francês para o Esporte Internacional que produziu o estudo, disse que a decisão sobre concorrer ou não depende do interesse de Paris, de a cidade ter capacidade de financiamento e se há uma chance de vencer a disputa.

Os custos de construção seriam limitados, segundo ele, porque a região da Grande Paris já possui instalação esportivas de alta qualidade, como o complexo de tênis de Roland Garros e o Stade de France.

O custo de operação, estimado em 3,2 bilhões de euros, seria 97 por cento financiado por fundos privados, com 1,85 bilhão saindo diretamente do Comitê Olímpico Internacional.

Cerca de 3 bilhões de euros seriam gastos em obras de infraestrutura e na construção de novas arenas esportivas e da Vila Olímpica, com 50 por cento de financiamento privado, segundo ele.

O estudo estimou o custo da candidatura em 60 milhões de euros.

A França realizou a Olimpíada pela última vez em 1924, também na capital.

Os Jogos Olímpicos de 2016 serão realizados no Rio de Janeiro, e a Olimpíada de 2020 será em Tóquio.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

França registra 36 violações da mídia na cobertura dos ataques em Paris



O Conselho Superior do Audiovisual, órgão regulador da mídia francesa, informou nesta quinta-feira (12) que avaliou ter havido 36 infrações cometidas pelos canais de TV na cobertura dos atentados em Paris, entre 7 e 9 de janeiro.

A agência fez 21 autuações e 15 notificações às empresas, cujos nomes não foram divulgados, por sete infrações à lei de meios de comunicação francesa.

Dentre elas, estão a divulgação dos vídeos do assassinato de um policial pelos irmãos Said e Chérif Kouachi, depois do ataque ao jornal satírico francês "Charlie Hebdo", e da invasão da polícia ao mercado kosher atacado por Amedy Coulibaly.

Segundo o jornal "Le Monde", os meios de comunicação foram avisados sobre as punições em 15 de janeiro e consideraram contraditórias as justificativas apresentadas pelo órgão.

Para o conselho regulador, a imprensa cometeu erros ao divulgar informações preliminares e não oficiais da polícia. Foi dada como exemplo a divulgação da identidade de um suspeito, um jovem de 18 anos, que não tinha relação com o crime.

Criado em 1989, o conselho é uma instância vinculada ao Estado que regula o conteúdo dos meios de comunicação públicos e privados na França. Dentre suas atribuições, está garantir a livre concorrência entre os canais, definir a classificação etária dos programas e impedir a discriminação e a incitação à violência.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Paris restringe filmagens de cenas de ação nas ruas



Segundo o jornalista correspondente Fernando Eichenberg, de O Globo, as autorizações de filmagens de cenas de ação nas ruas de Paris passaram a ter um controle mais rígido da polícia um mês após os atentados terroristas. Cenas externas em que figuram policiais, militares ou o uso de armas não serão permitidas.

Em tempos em que a jihad prega o ataque com faca a militares e policiais na França, as autoridades temem que figurantes em uniformes possam ser escolhidos como alvo, e além do que a presença de atores vestidos de policiais nas ruas poderia provocar tumulto.

Mas as sequências de ação em geral não foram proibidas totalmente, como informaram veículos da mídia anglo-saxã. As autorizações são concedidas caso a caso, e não mais do que cinco foram rejeitadas até agora, nenhuma de produção hollywoodiana.

Entre as não permitidas está a cena de um telefilme do canal France 2, com a atriz Mathilde Seigner no elenco, que foi filmada em estúdio porque havia policiais envolvidos. A medida permanecerá em vigor enquanto durar o alerta máximo do plano Vigipirate.

Na mesma lógica, estão interditadas filmagens diante de locais religiosos, fortemente vigiados no quadro do plano antiterrorista.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

La Tour D’Argent sofistica o La Rôtisserie, seu irmão mais novo

Assim que me mudei para Paris, um restaurante perto de casa me chamou a atenção. Era o La Rôtisserie du Beaujolais, dos mesmos donos do famoso La Tour D’Argent e, mal comparando, algo como o Antiquarius e o Da Silva, no Rio de Janeiro.

Seu trio de comando é formado por Sébastien Devos, Chef foi formado em cozinhas de prestígio, como o Ritz e Café de la Paix, por Frédéric Salaun, Directeur de Salle e veterano do La Tour d'Argent e pela sempre atenciosa Patricia Bauthamy.

Outro dia reparei, distraído que sou, que duas coisas haviam mudado: retiraram o "du Beaujolais" do nome e ainda retiraram da carta de vinhos a maioria dos beaujolais que lá estavam - em sua grande maioria foram substituídos por vinhos da maravilhosa cave do irmão mais velho.

De qualquer forma, o La Rôtisserie continua de frente para o Rio Sena, suas especialidades continuam sendo as carnes vermelhas e aves como patos e frangos, seu ambiente continua acolhedor e seu serviço continua correto. Ou seja, nada mais há que se esperar de um bom restaurante.

Como sempre pedi o Foie Gras de Canard Poêlé de entrada, como prato a Demi-Poulet de Challans Rôti, Purée de Pommes de Terre e, para a sobremesa, o incrível Café Gourmand.

Para conhecer o menu, acesse aqui:
www.larotisseriedelatour.com/wp-content/uploads/2014/05/Carte_la_Rotisserie.pdf

Para conhecer a carta de vinhos, acesse aqui:
www.larotisseriedelatour.com/wp-content/uploads/2014/05/Carte_des_vins_la_Rotisserie.pdf

La Rôtisserie
19, Quai de la Tournelle
5ème arrondissement
Telefone: 01 43 54 17 47






domingo, 8 de fevereiro de 2015

Tour Eiffel é a atração favorita para turistas tirarem selfies, diz pesquisa

Casal faz selfie em frente à Torre Eiffel, em Paris (Foto: Christian Hartmann/Reuters)

A Tour Eiffel, em Paris, é a atração favorita dos turistas do mundo para fazer selfies. É o que afirma o site britânico Attraction Tix, que fez uma pesquisa no Instagram, popular rede social de compartilhamento de fotos e vídeos.

Segundo o levantamento, houve 10,7 mil menções para “Eiffel Tower Selfie” no site. Em segundo lugar vem a Disney World, na Flórida, EUA, e em terceiro, o Burj Khalifa, prédio mais alto do mundo, que fica em Dubai.

Veja a lista:

1° - Torre Eiffel, Paris (10,7 mil)
2° - Disney World, Flórida (9.870)
3° - Burj Khalifa, Dubai (8.860)
4° - Big Ben, Londres (8.780)
5° - Empire State Building, Nova York (8.430)
6° - Sagrada Família, Barcelona (4.970)
7° - Disneylândia de Paris (4.740)
8° - Coliseu, Roma (4.670)
9° - Top of the Rock, Nova York (4.290)
10° - London Bridge, Londres (3.820)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Viúva de atirador da França dá entrevista a jihadistas

Paris Geiselnahme jüdischer Supermarkt - Fahndungsfoto Hayat Boumeddiene

Hayat Boumeddiene, mulher de Amedy Coulibaly, estaria em território controlado pelo "Estado Islâmico". Ela vem sendo procurada pela polícia desde os atentados de janeiro, que deixaram 20 mortos em Paris.

Procurada pela polícia francesa desde os atentados ocorridos em Paris há um mês, Hayat Boumeddiene, 26 anos, teria dado entrevista a um veículo que faz propaganda do "Estado Islâmico" (EI). As declarações da mulher, suspeita de cumplicidade nos ataques que deixaram 20 mortos, foram publicadas na revista nas edições de quarta e quinta-feira (11 e 12/02), e seriam a prova de que a viúva do sequestrador Amedy Coulibaly, que matou quatro pessoas em um mercado kosher no dia 9 de janeiro, teria chegado ao território controlado pelo EI.

Sem citar explicitamente seu nome ou publicar fotos de Boumedienne, os jihadistas referem-se a ela como "esposa do nosso irmão" Umm Basur al-Muhajirah, citando o nome adotado por Coulibaly. O sequestrador confessou ter coordenado o ataque ao semanário satírico francês Charlie Hebdo, juntamente com os irmãos Kouachi no mês passado. Said e Cherif Kouachi invadiram a redação da revista no dia 7 de janeiro e mataram 12 pessoas.

Na suposta entrevista, divulgada em inglês e francês, Boumedienne afirma que o marido tinha um "desejo ardente de se juntar aos irmãos e lutar contra os inimigos de Alá em solo do califado", e o teria feito se não tivesse levado à frente a intenção de realizar os atentados na França. Ela faz menção a passagens do Corão.

Além das quatro mortes do supermercado, Coulibaly também matou uma policial no primeiro dos três dias de terror vividos na capital francesa, antes de ser morto pela polícia. Apesar de ter deixado a França pouco antes dos ataques, segundo a polícia, Boumedienne é considerada peça-chave nas investigações dos atentados. Autoridades turcas afirmam que ela cruzou o país em direção à Síria um dia após o ataque ao Charlie Hebdo.

Com informações da Deutsche Welle.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A frágil ascensão de Hollande na França

Francois Hollande Wahl in Frankreich

Antes o mais impopular do pós-guerra, presidente se beneficiou da comoção com atentados e viu sua aprovação dobrar. Mas analistas apostam que fenômeno é passageiro, como aconteceu com Bush após o 11 de Setembro.

Poucos políticos caíram tão profundamente ou subiram tão rápido nas pesquisas de opinião quanto François Hollande. Desde os ataques em Paris, há cerca de um mês, o presidente francês mais impopular do pós-guerra tem visto sua popularidade aumentar – dobrando para 40%, o nível mais alto em dois anos.

De uma figura política tida como ridícula, considerada incapaz de ajudar uma adoentada França, Hollande tem emergido como estadista digno de reconhecimento, que levou uma nação a enfrentar conjuntamente o luto e ofereceu uma saída para o futuro.

"É algo único, nunca vimos isso antes", afirma o sociólogo Michel Wieviorka. "E ele não é o único que está subindo. O primeiro-ministro Manuel Valls está indo ainda mais alto."

Poucos analistas políticos, porém, acreditam que essa alta vá perdurar. "Todos lembram que, no passado, quando um político recebeu muito apoio, ele caiu muito rapidamente, bem para baixo", completa Wieviorka.

Queda e retomada

Um ano atrás, Hollande mostrava-se humilhado e derrotado, abalado por uma série de indicadores econômicos sombrios e por relatos de um suposto caso extraconjugal com a atriz francesa Julie Gayet.

Pouco tempo depois, ele terminou a relação com sua companheira de longa data Valérie Trieweiler, que acabou escrevendo um livro onde acusava o líder socialista de zombar dos pobres como "desdentados".

Hoje, no entanto, ele é mais lembrado marchando lado a lado com líderes mundiais nas manifestações em prol da liberdade de expressão em Paris e por anunciar uma série de medidas para conter o jihadismo na França.

"As medidas corretas foram tomadas de imediato, logo depois dos ataques", afirma a professora aposentada Maryse Pinheiro. Ela, uma socialista convicta, acredita que os ataques provaram que os críticos de Hollande estavam errados. "As pessoas agora veem que ele é realmente forte, que ele não é um molenga. Ele é um homem sério e pragmático, que sabe como se adaptar à situação. Acho que a popularidade de Monsieur Hollande vai continuar subindo."

Paris, Washington

No entanto, a história sugere o contrário. Assim como Hollande, o presidente George W. Bush viu sua popularidade disparar após o 11 de Setembro, chegando a 90% de aprovação.

"Quando acontece um evento maior que ameaça a nação, isso motiva a unidade nacional – o que beneficia aquele que personifica essa unidade", explica Étienne Schweisguth, do Instituto de Estudos Políticos de Paris. "Mas isso só perdura enquanto as pessoas acharem que a nação está ameaçada."

Bush manteve o clima de unidade nacional, lembra Schweisguth, ao declarar guerra ao Iraque, no início de 2003. Mesmo assim, seis anos mais tarde, ele deixou o cargo como um dos presidentes mais impopulares da história do país, com somente 22% de aprovação.

Na França, persiste o sentimento de uma nação ameaçada. Na terça-feira, um assaltante empunhando uma faca feriu levemente três soldados que patrulhavam um centro da comunidade judaica na cidade de Nice. Hollande também está tentando consolidar uma sensação de unidade nacional, dando atenção a populações judaicas e muçulmanas do país, que se sentiram vítimas dos ataques.

No mês passado, o governo anunciou uma série de medidas para erradicar algumas causas do terrorismo doméstico, que vão de lições sobre laicismo nas escolas, passando pelo aumento de capelães muçulmanos nas prisões, à criação de mais empregos em subúrbios desfavorecidos, vistos como um terreno fértil para jihadistas. Mais recentemente, ele despachou milhares de soldados e policiais franceses para patrulhar instituições religiosas e outros locais públicos sensíveis.

Observadores veem as recentes medidas de forma mista. "Psicologicamente, é bom enviar o Exército para vigiar escolas judaicas e outros lugares, porque isso tranquiliza os cidadãos", diz o especialista em terrorismo Mathieu Guidère, da Universidade de Toulouse. "Mas do ponto de vista da segurança, sabemos que os jihadistas têm como alvo os militares e os judeus, então esses dois alvos são colocados no mesmo lugar."

Eleições como termômetro

Por enquanto, os holofotes estão voltados para Hollande e seu governo. Um arquirrival, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, que retomou a presidência do partido de centro-direita UMP, não está chamando muita atenção.

Por sua vez, a líder da extrema direita, Marine Le Pen, da Frente Nacional, permaneceu na retaguarda depois dos ataques – o que, segundo analistas, pode vir a ser uma estratégia sábia.

Poucos acreditam que este período de distensão vai continuar. Todos os velhos problemas que assombram o governo de Hollande persistem, e a França terá eleições municipais em março. De fato, dados divulgados na semana passada mostram que o desemprego atingiu um novo recorde em dezembro último, e que a economia mal cresce.

"É claro, após esse ataque terrorista, houve muita comoção. Todos queriam estar juntos. Mas hoje sabemos que grandes debates estão por começar", diz Wieviorka. "E todos os problemas que criaram o terrorismo ainda estão aqui", completa o analista político.

Conversas nos arredores de Paris também sugerem um retorno à realidade. "Acho que Hollande fez o melhor – ao menos, ele não cometeu nenhum erro", afirma a empresária Nathalie Baylac, que normalmente apoia a ala de centro-direita. "Mas isso não vai mudar o meu voto. Eu realmente não tenho muita confiança em nenhum político.

Com informações da Deutsche Welle.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Maison du Brésil, em Paris, está em risco por falta de pagamento




Segundo a jornalista Fernanda Pontes, da Coluna Gente Boa de O Globo, a Maison du Brésil, fundação que recebe doutorandos e pesquisadores brasileiros em Paris, pode ser desapropriada pelo governo da França por falta de pagamento. A Maison teria deixado de receber o subsídio anual do Ministério da Educação (cerca de 185 mil euros) desde 2009 e, por conta disso, está sobrevivendo apenas do aluguel dos apartamentos dos residentes.

Aliás e a propósito

Projetado por Lucio Costa e Le Corbusier e tombado pelo patrimônio histórico francês, o edifício de seis andares — onde estudaram Joaquim Pedro de Andrade, Jaime Lerner, Sebastião Salgado, Arthur Moreira Lima e Zózimo Barroso do Amaral — está em situação precária. “Há infiltrações no telhado e a calefação funciona mal, os estudantes estão passando frio”, conta o presidente da Academia Brasileira de Filosofia João Ricardo Moderno, que esteve lá recentemente.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Prisões francesas, antros do Islã radical, passam por reformulação após atentados em Paris



Segundo uma reportagem do jornal The Washington Post, foi em uma delas que os responsáveis pelos atentados se radicalizaram e tornaram-se extremistas - segue a matéria:

"FLEURY-MEROGIS, FRANÇA — O homem foi enviado para a maior prisão da França por assalto à mão armada. E emergiu dela como um implacável radical que viria a participar de alguns dos mais sangrentos ataques terroristas em solo francês em décadas.

As prisões da França têm reputação de fábricas de radicais islâmicos, pegando criminosos comuns e transformando-os nas mais perigosas pessoas. Na prisão de Fleury-Merogis — onde Amedy Coulibaly passou um tempo ao lado de outro dos envolvidos nos ataques mortais neste mês em Paris e no subúrbio da capital francesa —, autoridades estão lutando para acabar com um problema que eles dizem que por muito tempo ameaçava explodir.

Ex-detentos, imãs e guardas, todos descrevem uma cena caótica dentro destas paredes de concreto, a pouco mais de 20 quilômetros das elegantes avenidas que cercam a Torre Eiffel. A militância se esgueira nas sombras, e os homens mais bem-comportados são, por vezes, os mais perigosos. O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, prometeu, na semana passada, inundar as prisões de seu país com mais 60 capelães muçulmanos, dobrando seu orçamento para tentar combater a radicalização. Nesta semana, autoridades revistaram 80 celas de suspeitos radicais, dizendo que encontraram celulares, pen-drives e outros objetos não permitidos. Centenas de detentos em prisões francesas são uma ameaça potencial, dizem as autoridades.

Mas os críticos dizem que esses esforços são minúsculos em comparação com o tamanho do problema, com prisões tão mal controladas que um relatório vazado do governo francês descreve cartazes de Osama bin Laden pendurados nas paredes dos detentos. O desafio pode ser agravado pelas dezenas de pessoas enviadas para a prisão após os recentes ataques, alguns há mais de um ano, sob processos acelerados em que foram acusados de apoio verbal ao terrorismo.

— A prisão destrói os homens — disse Mohamed Boina M'Koubou, um imã que trabalha na prisão de Fleury-Merogis. — Há pessoas que são alvos fáceis de detectar e transformar em assassinos.

Coulibaly havia dito à polícia que ele conheceu “terroristas” durante suas temporadas na prisão, assim como negou que era um deles.

— Se você quiser que eu fale de todos os terroristas que conheço, vou tomar um tempo seu. Eu conheço todos eles: os chechenos, os afegãos — disse Coulibaly à polícia, em 2010, de acordo com documentos judiciais de um julgamento naquele ano, em que ele foi condenado por tentar ajudar um homem que havia planejado os atentados de 1995 no metrô de Paris a fugir da cadeia. — Eu os conheci na prisão, mas isso não significa que eu ainda me interesse por eles agora.

As malcuidadas prisões são lugares ideais para espalhar a violenta ideologia — em muitos aspectos, ainda melhor do que do lado de fora dos portões da prisão. A maioria dos prisioneiros passam até nove horas por dia relativamente misturados, sem supervisão, contam os guardas, em primeiro lugar, no trabalho e, em seguida, no pátio da prisão. Serviços de Inteligência franceses se orgulham da infiltração nas redes de militantes em seu país — mas as prisões estão sob um comando diferente, dizem os especialistas, em que muitos radicais não são percebidos, descobertos, pelos guardas.

Outras nações, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido, também têm lutado contra a radicalização nas prisões. Mas a questão mostrou-se especialmente complicada na França, onde os especialistas estimam que os muçulmanos constituem mais da metade dos 68 mil detentos do país, embora sejam apenas 5% a 10% da população total. Mas existem apenas cerca de 170 imãs atualmente ministrando dentro das prisões.

— O número de pessoas que trabalham na Inteligência dentro das prisões é uma ninharia — afirma o sociólogo Farhad Khosrokhavar, da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais de Paris, que estudou radicalização na prisão, acrescentando que os presos mais perigosos são aqueles que sabem como se misturar. — A maioria das pessoas que se radicalizou na prisão sabia muito bem que não se devia deixar crescer a barba, nem ir à oração coletiva na sexta-feira, quando houvesse. Aqueles que fizessem isso, chamariam a atenção dos guardas, e geralmente seriam os inofensivos.

Os agentes penitenciários, que são normalmente responsáveis por cem detentos, cada um, dizem que podem fazer pouco em relação ao problema.

— Eles se adaptam mais rápido do que nós — explica David Dulondel, que trabalha como guarda na prisão de Fleury-Merogis e é o chefe de um sindicato local. — Não temos ninguém treinado para antirradicalização. Como está hoje, não podemos dizer se se alguém está em processo de radicalização ou não.

Valls propôs isolar os presos mais perigosos juntos, em vez de permitir que eles se misturem com a população carcerária comum. Os críticos questionam se é possível identificar os detentos certos, e perguntam se agrupá-los não seria simplesmente criar células radicalizadores ainda mais fortes dentro das prisões.

A prisão de Merogis era onipresente quando Coulibaly estava crescendo na vizinhança ao lado, no subúrbio parisiense de Grigny, em um conjunto habitacional tão atormentado pela violência que os correios fecharam o posto que tinha ali, no ano passado, porque havia sido roubado várias vezes. Os moradores fazem humor negro, dizendo que a prisão era apenas mais um bairro da região, uma vez que as pessoas entravam e saiam dela regularmente.

Foi dentro do perímetro de arame farpado de Fleury-Merogis, em 2005, que Coulibaly encontrou dois homens que mudariam sua vida. Um deles foi Djamel Beghal, um preso franco-argelino que havia sido condenado por conspirar para explodir a Embaixada dos EUA em Paris, em 2001, e foi um belo, articulado e sedutor defensor da violência em nome da religião.

— Beghal “estava bem acima de mim” na prisão — disse Coulibaly à polícia. — Beghal não pregou na prisão, mas respondeu a perguntas dos detentos sobre o Islã.

A prisão é o local ideal para passar mensagens uns aos outros com as garrafas de refrigerante amarrados a folhas rasgadas que prisioneiros podiam passar pelas janelas. A estratégia de comunicação funcionou, embora Beghal, que era visto como um radicalizador extraordinariamente perigoso, estivesse em confinamento solitário. Coulibaly gravou o método da vida na prisão em vídeo, que ele filmou e conseguiu enviar, ilegalmente, para fora da prisão a uma rede de televisão francesa.

O outro homem que Coulibaly conheceu na prisão foi Chérif Kouachi, que com seu irmão Saïd matou 12 pessoas neste mês, no ataque à redação do semanário satírico “Charlie Hebdo”. Na época, Kouachi estava cumprindo pena por uma tentativa fracassada de ir ao Iraque para lutar. Seu período na prisão o endureceu ainda mais. Os advogados envolvidos no caso assistiram à transformação do jihadista amador em um homem carrancudo que já resistiu a três dias de tentativas da polícia para interrogá-lo.

— Muitos dos meus clientes foram radicalizados na prisão — contou Dominique Many, um advogado de defesa que esteve envolvido no caso de 2005, em que Kouachi e outros foram condenados pela tentativa de ir ao Iraque para lutar pela jihad. — Eles são muito bem organizados. Sabem como proteger os mais fracos para atraí-los para o sistema. Dizem que você é da família, e então você está fisgado.

A radicalização que acontece dentro da prisão permanece por muito tempo depois que os presos são libertados.

— Quando você está na prisão por dez anos e em contacto com essas pessoas, é muito difícil de sair e mudar as coisas ao redor – explica o pesquisador Myriam Benraad, da Universidade Sciences Po de Paris, especialista em movimentos militantes que estudou a gangue de Kouachi.

A ameaça tem sido longamente analisada pelo governo francês — prisioneiros radicalizados, uma vez soltos, são “bombas-relógio”, de acordo com um relatório de 2005 do governo, que vazou, sobre o problema.

Mas para M'Koubou, o imã da prisão, alguns dos insistentes problemas são quase impossíveis de erradicar. É por isso que, em uma recente viagem para longe de prisão, para uma temporada de estudos em Paris, ele comprou um pesado livro que ele pretende ler imediatamente: “Al-Qaeda na França”."

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

De Paris à Normandia monumentos abertos à visitação são recuperados em toda a França


Acesso ao Monte Saint-Michel, na Normandia, agora é feito por micro-ônibus ou a pé
Foto: Mark Rapillard/CMN / Divulgação

"Este ano, a Abadia do Monte Saint-Michel, na Normandia, conclui amplo projeto de renovação, iniciado em 2010, embora já esteja funcionando plenamente. Como parte das obras, o acesso de automóveis particulares, ou ônibus, foi limitado a um estacionamento no continente. Quem chega de carro tem que deixá-lo no novo estacionamento. Há cerca de dois anos, o acesso já vem sendo feito por micro-ônibus — ou a pé — até a base do monte.

Com 1,2 milhão de visitantes ao ano, a Abadia do Monte Saint-Michel (o ingresso sai a € 9) é o segundo monumento nacional mais visitado entre os que estão sob a alçada do Centro de Monumentos Nacionais (CMN) na França, depois do Arco do Triunfo, que recebeu 1,7 milhão de pessoas em 2014. Os 82 monumentos administrados pelo CMN abertos ao público recebem 9,2 milhões de visitantes ao ano.

Muitos, como a Abadia do Monte Saint-Michel, integram as listas de patrimônio mundial da Unesco. A CMN não considera atrações de administração privada, por exemplo, como a Torre Eiffel, que recebe sete milhões de visitantes ao ano.

Para visitar a Abadia do Monte Saint-Michel, é preciso ficar de olho na tábua das marés, aconselha William Roussel, chefe do Polo de Desenvolvimento Turístico Internacional do CMN, que esteve no Rio recentemente:

— Na temporada de verão, quem pernoita por lá pode aproveitar a programação noturna. E se for em um dos cinco ou seis dias no ano de maré cheia, o local ganha atmosfera especial. No vilarejo no entorno da abadia, há pousadas, bares e comércio. E há uma passarela para evitar o isolamento na maré alta.

Voltando ao Arco do Triunfo, em Paris, Roussel lembra que o monumento — cujo mirante pode ser visitado — oferece bela vista para a cidade com o Champs Élysées em destaque. E está aberto diariamente até as 22h30m no inverno (ingressos a € 9,50).

Roussel destaca a Sainte-Chapelle, na antiga residência de Luís IX, e que integra, com a Conciergerie, o complexo do Palácio da Justiça, na Île de la Cité, em frente à catedral de Notre-Dame. A capela abriga a relíquia da coroa de espinhos de Cristo e importantes vitrais.

— Os vitrais são lindos. É um dos meus monumentos favoritos — diz Roussel.

O Panteão, que também passa por trabalhos de renovação, mas continua aberto normalmente, se prepara receber as cinzas de quatro figuras notáveis da Segunda Guerra Mundial — Germaine Tillion, Geneviève de Gaulle-Anthonioz, Pierre Brossolette e Jean Zay, no dia 27 de maio, e terá uma exposição sobre o tema da Resistência. Ainda como parte das comemorações do centenário da Primeira Guerra Mundial, celebrado em 2014, a exposição “Jaurès contemporaines 1914-2014” foi prolongada até 21 de março de 2015.

HOMENAGEM A LE CORBUSIER

No Norte do país, perto de Lille e da fronteira com a Bélgica, em Nord-Pas de Calais, a Villa Cavrois homenageia o cinquentenário de morte de Le Corbusier, abrindo as portas em junho, conta Roussel:

— Era uma casa de uma família rica da indústria têxtil, da década de 1930, planejada pelo arquiteto Robert Mallet-Stevens, e foi recuperada.

Em outras regiões da França, monumentos como o Castelo de If, na Baía de Marselha, na Provence, cuja história está ligada à do conde de Monte Cristo, em romance de Alexandre Dumas, também ganham destaque na lista de CMN. Vale lembrar que Marselha foi capital da cultura em 2014, com série de novos museus e atrações.

Em Cote d’Azur, o Fort de Brégançon, antiga casa presidencial será aberta ao público em maio, pelo segundo ano consecutivo (ingressos a € 10), desta vez, de maio a setembro (em 2014 foram dois meses). O forte fica num pico rochoso, debruçado a 35 metros sobre o Mediterrâneo."

Reportagem de Cristina Massarie, do jornal O Globo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Bar des Théatres - meu Café Lamas em Paris


Como bom carioca que sou, amo um bife com batatas fritas e onde moro ou tenha morado, elegia um restaurante para, ao menos uma vez por semana, comer o meu amado bifinho.

No Rio, o meu preferido é o do Café Lamas, no Flamengo que, para um restaurante brasileiro, é uma instituição: são quase 140 anos servindo o que considero o melhor Filet Mignon com Fritas do Rio de Janeiro.

Em São Paulo, o meu imbatível era o do Le Vin dos Jardins, na Alameda Tietê que me servia um excelente Contra-Filet com Batatas “Canoa” e em Brasília me fartava no Cavalcante, um pé-sujo na Asa Norte, mais precisamente na 405N.

Quando comecei a frequentar, levado pelo meu amigo e chefe, à época, o Jornalista Tales Faria, o Cavalcante que era o dono já havia morrido, mas para vocês sentirem o drama, o nome mesmo do lugar é Ki Filé. E realmente era um super filet com fritas. Ah, que filet!

Aqui em Paris elegi o Bar des Théatres, que fica no número 44 da Rue Jean Goujon (antes ficava na mítica Avenue Montaigne) , no 8ème arrondissement, como o meu lugar de filet com fritas.

Hoje lá fui almoçar com minha mulher e duas amigas numa tarde inesquecível com muitas risadas, muitas lembranças, muito carinho e muitos bifes: éramos quatro na mesa (todos pedimos), com direito a muitas batatas fritas e um excelente molho Béarnaise, que para mim é o melhor molho para acompanhar batatas fritas e filet.

Apesar do Béarnaise tem o nome de quem nasce na região de Béarn, ao sudoeste da França, ele foi criado por um Chef de Cuisine do Pavillon Henri IV que fica em Saint-Germain-en-Laye, em um excelente restaurante com o Rio Sena à frente e uma vista de Paris ao longe.

Como o restaurante já era nomeado em homenagem ao Rei Henry IV que nascera em Bearn, este chef resolveu, duzentos anos após a morte do rei, fazer uma nova homenagem, desta vez dando o nome da região de onde ele vinha.

Para quem ficou com vontade, aí vai a receita do Béarnaise, para quatro pessoas.

Ingredientes:
1 folha de louro
1 limão
1 raminho de tomilho
125g de manteiga gelada em cubinhos
2 colheres de sopa de estragão fresco picado
2 gemas
4 cebolas roxas pequenas picadas
4 colheres de sopa de vinagre de vinho branco
4 colheres de sopa de vinho branco
Sal e pimenta em grão quebrada a gosto

Como preparar:
• Leve ao fogo, numa panela pequena, a cebola, a pimenta e 1 colher de sopa de estragão, o tomilho, a folha de louro, o vinho branco, o vinagre e o sal;
• Deixe reduzir o líquido, até que sobre apenas 1 colher de sopa;
• Peneire tudo;
• Em uma panela ou tigela, misture bem as gemas com o líquido reduzido;
• Leve ao banho-maria e, sempre batendo, acrescente aos poucos a manteiga em cubinhos, até que forme um molho consistente;
• Retire do fogo e acrescente o restante de estragão e também algumas gotas de limão.

Pronto, agora é só servir. Além de filet, pode ir com salmão e frango.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Alunos da periferia de Paris transformam Champs-Elysées em foco de estudo



O jornalista correspondente Fernando Eichenberg, de O Globo, publicou hoje uma excelente matéria no Globo Online sobre estudantes de sociologia franceses para os quais o verdadeiro ‘gueto francês’ não estaria nos subúrbios pobres e sim nos bairros ricos. Segue a matéria:
"Menos de trinta minutos e uma dezena de estações da linha 13 do metrô parisiense separam a cidade de Saint-Denis, subúrbio popular no norte da capital, do luxuoso entorno da célebre avenida de Champs Elysées. Durante três anos, entre 2011 e 2013, o professor de Sociologia Nicolas Jounin, da Universidade Paris 8-Saint-Denis, levou uma centena de seus alunos para um estudo de campo nos arredores do chamado “Triângulo de ouro”, zona delimitada pelos Champs-Elysées e as avenidas Montaigne e George V. A ideia do projeto era iniciar os estudantes de primeiro ano de faculdade na metodologia da investigação sociológica, neste caso invertendo a recorrente escolha da periferia pobre como objeto de pesquisa. A experiência virou livro, “Voyage de classes” (“Viagem de classes”, ed. La Découverte) — já na quarta tiragem da 1ª edição —, reverberou na mídia e suscitou debates nestes tempos em que o premier Manuel Valls denunciou a existência de um “apartheid territorial, social e étnico” em uma França formada por “guetos”. Para estudantes de Saint-Denis, por uma definição sociológica, o verdadeiro gueto francês não estaria localizado nos subúrbios pobres, mas nos bairros ricos de Paris.

Jounin defende sua iniciativa no contexto de um aumento das desigualdades sociais e econômicas nos últimos 40 anos no país, provocador de uma “segregação espacial” de populações mais pobres em cidades como Saint-Denis, e da concentração de camadas mais favorecidas em bairros como Champs-Elysées, correspondente ao 8º distrito de Paris.

— Essas desigualdades e essa segregação se traduzem por um modo de vida específico dos frequentadores e, sobretudo, dos habitantes destes bairros burgueses. E a densidade de sua sociabilidade, pelas escolas, clubes e rituais comuns, é o que produz uma consciência de classe provavelmente mais aguda do que em outras classes sociais — sustenta.

‘MAIS GUETO DO QUE SAINT-DENIS’

Números e estatísticas ilustram o abismo entre dois mundos nem tão distantes no mapa. A média do salário anual no “Triângulo de ouro” é de € 82 mil, contra € 16 mil em Saint-Denis e € 23 mil no país. A renda na área de Champs-Elysées depende menos do salário: 20% provêm de rendas de propriedade, contra 7% na escala do país e 2% em Saint-Denis.

Jordan Mongongnon, de 23 anos, que mora com os pais numa habitação popular de Bessancourt, ao norte de Saint-Denis, participou do primeiro grupo da pesquisa.

— O 8° distrito se constitui muito mais como um gueto do que Saint-Denis — opina ele. — Saint-Denis está mais próxima da realidade geral da França do que o 8° distrito. Isto, de algum modo, nos leva a tomar uma certa consciência de classe, mesmo que hoje não seja algo tão marcado como no passado. É por meio desta confrontação brutal que percebemos as desigualdades.

Em seu trabalho universitário, os alunos observaram e fizeram enquetes em butiques de luxo, hotéis cinco estrelas, bares e cafés, e interrogaram moradores. Num primeiro contato com a prefeitura do bairro, Jounin foi alertado de que seus alunos poderiam ser “recebidos a tiros” pelos habitantes locais se batessem às portas para propor questionários e pesquisas. Em suas tentativas de observação como clientes, os estudantes na maioria das vezes não obtiveram sucesso, segundo eles, por serem tratados de forma diferenciada, seja pelo desprezo de vendedores ou garçons ou pela vigilância de segurança.

— Rapidamente éramos catalogados como clientes ilegítimos. Por um lado, há uma racionalidade nisso, pois identificavam que não iríamos comprar — admite Jordan. — Mas há um tipo de tratamento constante de fazer você se dar conta quem é e de onde vem. A lógica implícita por trás desta interação é deixar claro que você não é bem-vindo. A Champs-Elyseés e seu comércio querem se manter como um lugar para privilegiados, e temem que algo possa afugentar seus clientes prioritários.

Miguel Cerejo, 26 anos, filho de um operário e de uma zeladora de prédio, mora com os pais no 17° distrito. Para ele, que integrou o último grupo do estudo, a experiência deixou flagrante a falta de diversidade social no “Triângulo de ouro”:

— A burguesia rica é hoje na França, do meu ponto de vista, a única classe social consciente de sê-lo, e que defende com afinco seus interesses. É um grupo socialmente fechado, que se reproduz socialmente, e busca assim preservar seu poder.

Para ele, uma das surpresas reveladas pela pesquisa foi a presença do “sexismo” no bairro rico.

— Há diversos círculos e clubes privados masculinos. Alguns aceitam mulheres, mas elas não têm direito a voto. A mídia em geral sempre aponta o sexismo nas classes populares, mas nos damos conta de que na alta burguesia isto também ocorre. Não esperava, foi algo que me surpreendeu — confessa.

‘MINORIA DESCONECTADA’

As anotações dos alunos abordam uma variedade de aspectos: alguns assinalaram mesmo a presença de pombos mais saudáveis em Champs-Elysées, e outros, a ausência de toaletes públicos (apenas 12, ou três por km² e seis para cada 100 mil habitantes), o que seria uma maneira de afastar os mais pobres, sem dinheiro para consumir num café e utilizar o banheiro. Também foi notada a diferença de tratamento de mulheres portando o véu: em Saint-Denis, o véu islâmico simboliza e cristaliza um conflito entre funcionários do Estado, nas escolas públicas, e parte da população; já na avenida Montaigne, endereço de lojas de prestígio, mulheres com véu da Arábia Saudita ou do Qatar são recebidas como clientes afortunadas e especiais, anotaram os alunos.

O 8° distrito conta com menos de 2% de habitações populares em sua área, índice que sobe para 40% em Saint-Denis e 15% na média do país. A prefeitura prefere infringir a lei e pagar multas, e justificou sua atitude ao professor argumentando de que nada adiantam habitações populares se o comércio ao redor é extremamente caro: há confeitarias de luxo Hédiard, mas não supermercados.

Jordan diz que a explicação municipal “se sustenta”, mas ressalta:

— Se franceses não podem se instalar e viver em um bairro francês, é porque algo está errado. É esta minoria que deve compreender que está desconectada, e isto é uma forma de eles manterem seus privilégios.

Já Abigail Tiecoura, 24, fez parte do segundo ano da prática sociológica no “Triângulo de ouro”:

— Esta experiência me ensinou que é preciso nos conhecermos melhor, compreender ainda mais as questões que levam à formação de grupos, para permitir novas possibilidades de igualdade, pois acredito que são possíveis."