sábado, 18 de outubro de 2014

Hokusai no Grand Palais


Luta. ‘Tametomo dans l’île’ (’Tametomo na ilha’), de 1811: para curador, Hokusai é um ‘pai parcial’ do mangá
Foto: BRITISH MUSEUM / RÈunion des MusÈes Nationaux
"Tametomo na ilha’, de 1811: para curador, Hokusai é um ‘pai parcial’ do mangá

O jornalista correspondente Fernando Eichenberg, de O Globo, publicou hoje uma boa matéria sobre
a retrospectiva de Hokusai que traz 500 obras ao Grand Palais e que é maior mostra do artista já realizada fora do Japão. Abaixo reproduzo e recomendo a leitura, segue o texto:
“Desde os seis anos de idade, tinha a mania de desenhar a forma dos objetos. Nos meus 50 anos, havia publicado uma infinidade de desenhos, mas tudo o que produzi antes dos 70 anos não vale a pena ser levado em conta. Foi na idade de 73 anos que compreendi mais ou menos a verdadeira estrutura da natureza, dos animais, das ervas, das árvores, dos pássaros, dos peixes e dos insetos. Consequentemente, aos 80 anos teria feito progressos; aos 90, penetraria no mistério das coisas; aos 100 anos, teria alcançado um grau de maravilha, e, quando tivesse 110 anos, em mim, seja um ponto ou uma linha, tudo seria vivo. Peço a todos que viverão tanto quanto eu que observem se mantive a palavra. Escrito na idade de 75 anos por mim, antes Hokusai, hoje Gadyôrôjin, o velho louco do desenho.”

Pintor, desenhista, ilustrador, gravurista, Hokusai, nascido em 1760, morreu em 10 de maio de 1849, antes de completar seu centenário, e portanto sem poder comprovar a prometida excelência de sua arte. Nem precisou. A história lhe legou o estatuto de um dos maiores artistas japoneses de todos os tempos, mais popularmente conhecido por sua série “Trinta e seis vistas do Monte Fuji” e “A grande onda”, ambas do início dos anos 1830. Sua extensa e variada obra é atualmente objeto de uma vasta retrospectiva organizada pelo museu Grand Palais, em Paris, com cerca de 500 trabalhos expostos até 18 de janeiro de 2015, a maior já feita fora do Japão.

A mostra foi dividida cronologicamente em seis períodos, mostrando as diferentes faces do artista e sua evolução estilística, com temáticas da vida cotidiana, de populares, samurais, cortesãs, da natureza e de paisagens. Ao longo de sua vida, ele trocou 33 vezes de nome e 93 vezes de moradia. O principal curador da exposição, o japonês Seiji Nakata, 63 anos, diretor do Katshushika Hokusai Museum of Art de Tsuwano, ficou fascinado pelos desenhos de Hokusai aos 9 anos de idade e acabou se tornando um dos maiores especialistas em sua obra.

— Hokusai mudava sempre de localidade para encontrar uma nova vida. Era uma nova busca, de novos objetos para sua pesquisa artística. Por vezes, ele se mudava pela manhã e, à tarde, já se encontrava novamente em outro endereço. Para ele, havia um único objetivo: saber o que é a verdadeira pintura. Ela fala da “pintura autêntica”, que hoje não sabemos o que quer dizer. Mas até morrer ele enfrentou todos os desafios nessa busca sem fim — diz Nakata.

DESPREZO DA ARISTOCRACIA

Hokusai é um artista do chamado período Edo (o nome na época da Tóquio de hoje), entre 1615 e 1868, no reinado da dinastia Tokugawa, uma era de paz e prosperidade econômica após séculos de guerra civil. Artista independente, expulso na juventude de sua primeira escola de pintura, morreu ignorado ou desprezado pela aristocracia da época.

— No Japão havia as classes mais distintas, reservadas aos “verdadeiros” pintores, e uma outra, inferior, para os artesãos. Hokusai trabalhava como artesão — nota Nakata.

Sua arte inspirou escritores e pintores franceses no final do século XIX e contribuiu para a difusão do “japonismo” na Europa. Sem falar nos mangás, as histórias em quadrinhos japonesas, que devem muito à imaginação e à arte de Hokusai.

— Sem dúvida, ele é, parcialmente, o pai da mangá — confirma Nakata.

Grand Palais
3, Avenue du Général Eisenhower
8ème arrondissement
Telefone: 01 44 13 17 17
www.grandpalais.fr

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