sexta-feira, 1 de março de 2013

Biarritz e Bordeaux, uma história de amor

A repórter Luísa Valle, de O Globo, publicou ontem no Caderno Boa Viagem / Globo Online, uma excelente matéria sobre as cidades de Biarritz e Bordeaux, que reproduzo e recomendo a leitura, segue a peça:

Caminhos da imperatriz por Biarritz e Bordeaux

As duas cidades na região francesa da Aquitânia reúnem belas praias,
bons vinhos, alta gastronomia, moda e História


Biarritz fica quase na fronteira com a Espanha, no País Basco
Foto: Luisa Valle / O Globo
Biarritz fica quase na fronteira com a Espanha, no País Basco. Foto: Luisa Valle / O Globo
 
BIARRITZ - A imperatriz Eugénie de Montijo, mulher de Napoleão III, sobrinho de Bonaparte, foi uma lançadora de tendências. A espanhola que criou a crinolina — aquela armação usada embaixo das saias das mulheres da alta sociedade — apresentou aos franceses o prazer de viajar. Com suas malas feitas especialmente por um artesão pouco conhecido na época, Louis Vuitton, a imperatriz embarcava nos trens rumo a cidades diversas na França. Não por acaso, justamente durante esse período, Napoleão III, admirado com os avanços tecnológicos do Reino Unido, começou a expandir a rede ferroviária francesa. A região no sudoeste do país ainda guarda as marcas desta “rainha da moda”, e justifica um passeio pelos caminhos que levaram Eugénie a se tornar uma das mulheres mais influentes da França no século XIX.

A primeira parada é Biarritz, balneário chique que foi a maior paixão da última imperatriz francesa. O roteiro pela cidade no País Basco francês reúne belas praias, cassinos e hotéis luxuosos — inclusive um instalado na antiga casa de veraneio de Eugénie e Napoleão III. A imperatriz (1826-1920) também fez história com Napoleão III em Bordeaux, onde simbolicamente nasceu o Segundo Império francês. A cidade famosa pelos vinhos da região é uma das mais belas do país. E não deixe de incluir no roteiro uma visita à pequena Saint-Émilion: diz a lenda que foi lá que surgiram os macarons. Não muito longe fica La Rochelle, com seu ar medieval e um porto guardado por duas torres.

Biarritz. Entre surfistas e celebridades
Dizem que a paixão da imperatriz Eugénie por Biarritz surgiu ainda na infância. Devido à proximidade do País Basco espanhol, ela passava seus verões na pequena aldeia francesa de pescadores. Logo que se casou com o imperador Napoleão III, voltou à cidade, onde ficou por dois meses. Pouco depois, ganhou uma casa de verão que se tornou um dos símbolos do balneário: a Villa Eugénie, transformada no famoso Hôtel du Palais.

Não é difícil entender o fascínio da imperatriz. Com as ruas tomadas por lojas e cafés, a cidade é um convite para relaxar. Suas casas brancas e prédios extravagantes que tomam conta da paisagem remetem ao fim do século XIX e ao início do século XX, quando personalidades como Coco Chanel, a atriz Sarah Bernhardt e a imperatriz Sissi, da Áustria, circulavam pela cidade. Algumas deixaram suas marcas inclusive nos nomes de ruas, como o escritor Victor Hugo, um dos primeiros a descobrir Biarritz; o rei inglês Eduardo VII, que passou cerca de um ano no Hôtel du Palais; ou a própria Eugénie, que virou nome de uma praça.

São apenas sete quilômetros de costa e seis praias que atraem milhares de turistas todos os anos em busca de ondas, que estão entre as melhores da Europa. Em Lacanau, por exemplo, ao norte de Biarritz, acontecem etapas do circuito mundial de surfe, do ASP World Qualifying Series (WQS). Nesta parte da costasão realizados vários outros campeonatos, como em Hossegor.

Biarritz também é famosa por causa dos centros de talassoterapia — tratamentos feitos com água do mar — que são muito comuns na região. Atualmente o segundo principal instituto de talassoterapia da França fica em Biarritz. O local foi aberto em 1979 pelo ciclista Louison Bobet. Em 2004, o centro foi completamente reformado e passou a integrar o hotel Sofitel Biarritz Le Miramar, da rede Accor, debruçado sobre a Golfo de Biscaia.

Um passeio pela cidade não pode deixar de fora um dos muitos mirantes que permitem a vista da costa do País Basco. Um dos principais é o Ponte Atalaye, que fica logo depois do porto dos pescadores. Uma escadaria leva ao ponto mais alto, de onde é possível ver Biarritz e parte da costa de Bayonne, a cidade vizinha conhecida como a “porta” do País Basco.

Seguindo pelo mirante chega-se à Rocher de La Vierge, o local onde Napoleão III planejava construir parte do porto da Biarritz. A força do mar, no entanto, não permitiu que ele realizasse seus planos. A rocha hoje virou um ponto de observação de onde é possível ver parte da costa da Espanha e também a praia do Port Vieux, mais reservada. O local é chamado de Rocha da Virgem porque possui um altar com uma santa construído pelos pescadores. Bem em frente fica o Cité de l’Océan et Musée de la Mer, que foram ampliados há um ano.

Próximo ao mirante do Atalaye encontra-se o Port du Pêcheurs. Foi neste Porto dos Pescadores que Napoleão III tentou fazer a base do porto da cidade, o Port du Refuge. Atualmente essa área recebe alguns barcos particulares. Durante o dia, turistas e moradores aproveitam para pescar ou passar o tempo à beira d’água, mas é à noite que o porto ferve, quando bares e restaurantes abrem as portas.

Os pescados frescos da região são a pedida em todos.

Do porto é possível observar a Igreja de Sainte Eugénie, construída em homenagem à imperatriz. Em estilo neogótico, fica na praça de mesmo nome, em frente a um pequeno coreto. Nesta praça Sainte Eugénie há diversos bares e restaurantes.

Seguindo pelo calçadão em direção à Grande Plage, chega-se a mais um mirante. Uma rocha conhecida como La Basta é uma espécie de península ligada ao calçadão por uma ponte. Vale atravessar para curtir a paisagem ou descansar nos bancos que decoram o local, como se fosse uma pracinha numa ilha.

Termine o passeio na Praia Grande, onde turistas curtem as areias e o mar — mas, nesta época do ano, a temperatura máxima não costuma passar de 18°C. Na orla fica, ainda, o cassino municipal e, mais adiante, o suntuoso Hôtel du Palais.

Um presente para Éugenie
Em apenas dois meses, a imperatriz Eugénie conseguiu passar seu amor por Biarritz ao marido, e o imperador Napoleão III construiu uma casa de veraneio com 150 quartos e uma das melhores vistas da costa do País Basco. A nem um pouco modesta Villa Eugénie, como era chamada, se tornou um cassino em 1880 e, dois anos depois, virou Hôtel du Palais. Parte do grupo Orient-Express, o prédio, na forma da letra “E”, uma homenagem à sua musa inspiradora, é um dos poucos em toda a França que possui a classificação oficial de Palácio. Por todo o ambiente é possível ver os monogramas NE, de Napoleão e Eugénie. As suítes, com diárias que podem chegar a € 5 mil, têm nomes de pessoas importantes que passaram por lá, como Charles Chaplin, Ernest Hemingway, Edith Piaf, a Rainha Elizabeth II e a Imperatiz Sissi, da Áustria. A decoração, com muito ouro, segue o suntuoso estilo imperial.

O spa é uma das maiores atrações do Hôtel du Palais, em parceria com a marca Guerlain. A área de três mil metros quadrados tem cinco andares de salas de massagem, salão de beleza e academia. E também o lounge Eugénie, com bar e deque com espreguiçadeiras voltadas para o mar. A sala é decorada com imagens de alguns dos hóspedes mais famosos do hotel. O spa, que em 2008 foi destacado como um dos melhores em hotel na Europa pela editora Condé Nast Johansens, possui ainda piscinas cobertas que podem ser usadas apenas por hóspedes. A piscina em estilo californiano faz sucesso: com vista para a Grande Plage, sua água vem do mar, e durante todo o ano é aquecida a 27°C. O hotel tem ainda três restaurantes, entre eles o Villa Eugénie, com uma estrela Michelin e um adega de 11 mil garrafas. Comandado pelo chef Jean-Marie Gautier, sua especialidade são os frutos do mar e a culinária do país basco.

Bordeaux. Grandes vinhos e cozinhas estreladas
As viagens da imperatriz Eugénie não se limitavam a Biarritz. Ela também passou por Bordeaux, um pouco mais ao norte na mesma região francesa, a Aquitânia, onde acompanhou o marido em visitas entre 1856 e 1859 e acabou imortalizada na fonte “Des trois graces”, que fica na Place de la Borse, um dos pontos mais famosos da cidade. Mas foi Napoleão III que ficou mesmo marcado na história local. Em 1855, durante a Exposição Universal de Paris, o imperador ordenou a criação de uma classificação para os melhores vinhos da região, que seriam apresentados aos visitantes.

Bordeaux é conhecida mundialmente por seus vinhos, que estão por toda parte, incluindo cidades e vilas dos arredores, como Pomerol, Sauternes e Saint-Émilion, onde fica o Château Soutard, um dos estão abertos aos visitantes, com vinhos de alta classe. As parreiras são onipresentes na decoração de bares e restaurantes. É difícil caminhar pelas ruas e não ver pelo menos uma garrafa numa vitrine ou na mesa de algum café. Consequentemente, a gastronomia também é forte, e a região tem mais de uma dezena de restaurantes estrelados pelo Guia Michelin.

Um deles é o Le Gabriel, que fica na Place de la Borse, bem em frente à fonte de Eugénie. A vista para o Rio Garonne, aliás, já vale o passeio. Comandando pelo chef François Adamski, serve um cardápio francês mas com um toque moderno. Uma boa pedida é o foie gras com tabule de frutas. O local possui três andares: um para o bar, outro para o bistrô e o terceiro para o restaurante. Os preços, claro, variam de acordo com o andar. No bistrô, um menu com entrada, prato principal e sobremesa sai por volta de € 30.

Outro restaurante estrelado que vale a visita é o Jardin de Burdigala, que fica no Hôtel Burdigala, localizado na região mais comercial da cidade. Comandado pelo chef Jean-François Basquin, a decoração fica por conta da adega aparente, que serve como uma das laterais do salão, iluminado por um teto de vidro. O cardápio privilegia a gastronomia regional, com foie gras, peixes, figos, geleia de frutas vermelhas e queijos de cabra, tudo harmonizado com os vinhos de Bordeaux.

O menu é sazonal, o que garante o frescor dos produtos. Num almoço de outono, por exemplo, o chef serviu tartine de figos com queijo de cabra na espuma de beterraba e endívias com espinafre. Para encerrar, sorvete de frutas vermelhas e suspiro e os tradicionais cannelés, pequenos bolinhos caramelizados típicos de Bordeaux.

Já o La Tupina, que fica nas margens do Garonne, próximo à Porte de Bourgogne, não está entre os estrelados de Bordeaux, mas tem brilho próprio. A cozinha, que normalmente fica escondida, é onde os clientes são recebidos logo na entrada, com verduras frescas, legumes e um forno a lenha funcionando a todo vapor.

Observar o chef Jean-Pierre Xiradakis trabalhando e descobrir as engenhocas que ele usa é uma diversão. Uma delas é uma espécie de assador de frangos. À medida que os garçons passam ali para entrar num dos salões (são dois, um em cada extremidade da cozinha) eles acionam uma alavanca que coloca a ave no forno. Aos poucos, como um relógio, a alavanca vai girando e o frango se afasta do fogo. O restaurante é uma ode à culinária da região, com muitos vegetais, carnes de pato e carneiro, trufas, cogumelos, aspargos, queijos. A comida é apresentada de uma forma rústica, quase caseira — como o próprio chef descreve em seu menu. Entre as opções estão foie gras grelhado com pêssegos e caviar da Aquitânia (30 gramas custam € 75), além de algumas opções de pratos tradicionais dos fazendeiros do sudoeste da França, como o cassoulet e a macaronade, um macarrão preparado com cogumelos e foie gras.
Serviço

Restaurantes


Le Gabriel:
O chef François Adamski comanda este restaurante, bistrô e bar com vista para o Rio Garonne. 10 Place de la Bourse, Bordeaux. Tel. 33 (0) 5 56 30 00 80. bordeaux-gabriel.fr

La Tupina:
O restaurante do chef Jean-Pierre Xiradakis é uma ode à gastronomia regional. 6 Rue Porte de la Monnaie, Bordeaux. Tel. 33 (0) 5 56 91 56 37. latupina.com

Passeios


Cité de l’Océan et Musée de lar Mer:
Ingressos a € 13. Plateau Atalaye, Biarritz. Tel. 33 (0) 5 59 22 75 40. museedelamer.com

Château Soutard:
Vinícola aberta a visitação, perto de Saint-Émilion. Tel. 33 (0) 5 57 24 71 41. chateau-soutard.com

Vignobles & Châteaux:
Loja especializada em vinhos de Saint-Émilion, que oferece cursos de degustação. 4 Rue du Clocher. vignobleschateaux.fr

Luisa Valle viajou a convite da Rail Europe e da TAM

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