sábado, 3 de maio de 2014

Hotéis de luxo em Paris investem na alta gastronomia

Reproduzo uma excelente matéria de Mari Campos, especial para O Globo, sobre os restaurantes de alguns dos melhores hotéis de Paris, publicada nesta última sexta-feira (2). Segue a peça:


A lagosta é uma das atrações do W
Foto: Divulgação
A lagosta é uma das atrações do W.  Foto: divulgação

Estrelas do quarto à mesa em Paris

Hotéis de luxo investem em alta gastronomia com restaurantes
assinados por Chefs notáveis em ambiente caprichado

PARIS - O ano passado foi excelente para os hotéis de Paris, sobretudo os de luxo, com taxas de ocupação em franca recuperação pós-crise de 2008. Alguns estabelecimentos voltam agora repaginados, numa retomada clara da ideia de mesclar inovação com princípios básicos de qualidade e excelência em padrão de serviço à francesa — e com destaque, claro, para a gastronomia, em restaurantes mais acolhedores e com personalidade. Um chef estrelado pode conquistar, pelo estômago, além de moradores, novos e futuros hóspedes para o hotel.

Hoteleiros que investem neste segmento sustentam que hoje em dia não existem mais restaurantes “de” hotel e sim restaurantes “em” hotel — com identidade própria e independência. E os que estão localizados em hotéis de luxo se apresentam para o cliente ou hóspede com a chancela de qualidade pelo renome do teto que os abrigam e a promessa de boa comida e ótimo serviço. Em nenhuma cidade isso fica tão óbvio quanto em Paris, uma das grandes capitais gastronômicas do planeta.

No último ano, novos restaurantes dão ainda mais sabor à oferta da cidade. O W Paris inaugurou em março o Coquette, com cardápio que brinca com pratos clássicos. O La Scène conquistou uma estrela Michelin em menos de um ano no renovado Prince de Galles. O Le Lulli, no Grand Hotel du Palais Royal, com ambiente despojado, tem preços convidativos. No Four Seasons, o chef duas estrelas Eric Briffard leva os hóspedes ao mercado antes de preparar o almoço.

Novas propostas. De ambiente sem frescuras a chinês gourmet

Depois de uma grande reforma que durou dois anos, o Hotel Prince de Galles, da Luxury Collection da Starwood, foi reaberto em maio do ano passado, no chamado “triângulo dourado de Paris” (formado pelas avenidas Champs-Élysées, George V e Montaigne), na Rive Droite. Meses depois, em fevereiro, seu restaurante assinatura, o La Scène, conquistou uma estrela Michelin. A chef executiva do hotel, Stéphanie Le Quellec, estrela em ascensão na culinária francesa aos 32 anos, elaborou uma gama interessante de experiências culinárias no hotel, do café da manhã (€ 48) à excelência à la carte do La Scène.

— Quero desmitificar a alta gastronomia, tornando-a mais acolhedora e menos intimidante, mas sem que perca sua elegância — diz.

Essa parece ser a linha seguida pela maioria. Também inaugurado ano passado, em junho, o Grand Hotel du Palais Royal, ao lado do Louvre e anexo ao Palais Royal, tem chancela de Pierre-Yves Rochon no toque contemporâneo da decoração do palácio. Tão discreto quanto os quartos e ambientes comuns do hotel, seu restaurante Le Lulli tem encantado moradores e turistas em menos de um ano de operação. Com entrada independente ao hotel e ambiente absolutamente sem frescuras (o próprio staff é jovem e acolhedor no atendimento, sem deixar de ser impecável), parece mais uma extensão do belo jardim de inverno anexo — inclusive nos detalhes verdes aqui e ali. Comandado pelo jovem chef Jean-Yves Bournot, tem cozinha tipicamente francesa com toque gourmet e cativa também pelo preço: o menu de almoço executivo durante a semana tem opções diferentes de entrada, prato principal e sobremesa para serem combinadas por preços de € 35 a € 42, com amuse bouche incluído — as vieiras e a torta de chocolate são imperdíveis. O Champagne Bar comandado por Yohann Andrez ao lado serve seus pratos de maneira ainda mais informal e descontraída.

O Hotel Marignan, na rua homônima do “triângulo de ouro”, também reabriu as portas depois de uma total remodelação. O designer Pierre Yovanovitch criou um ambiente moderno no lobby e no bar e trouxe mais informalidade para o novo restaurante, de poucas paredes, ao lado da recepção. Mas é o chef Filipe da Assunção (que ostenta o título de “Meilleur Ouvrier de France”), com pratos criativos nas misturas e na apresentação, mas essencialmente franceses (do steak tartare, a € 28, ao café gourmand), quem garante a cara jovem e convidativa do local. O restaurante é boa opção para almoço em um dia de compras na Champs-Élysées e arredores.

Inaugurado no fim de 2010 na antiga mansão do sobrinho-neto de Napoleão Bonaparte, o hotel Shangri-La Paris tem decoração pomposa e vibe contemporânea nos restaurantes, numa mistura que tem dado certo. O francês L’Abeille, do chef Philippe Labbé (natural de Champagne e já com um histórico de estrelas Michelin no seu currículo), recebeu duas estrelas Michelin pouco tempo após a abertura com pratos que mudam a cada estação, como a lagosta azul (€ 138), acompanhados de trufas negras ou pistache. A iniciativa mais ousada do hotel foi igualmente premiada: o primeiro restaurante gourmet de cozinha chinesa de Paris, o Shang Palace, a cargo do chef chinês Frank Xu, também recebeu sua estrela Michelin. No cardápio além do pato laqueado de Pequim, há pratos que propõem uma releitura dos pratos chineses mais clássicos. O menu de sete passos sai a € 98.

Sabores da estação. Ingredientes frescos em menus de grife

Para combinar com seu estilo contemporâneo e jet-setter, o W Paris Opera abriu em março um novo restaurante, Coquette, que propõe uma releitura bem-humorada e atual da cozinha francesa. Comandado pelo chef Julien Gasperi, traz bom humor dos afrescos do artista de rua francês Honet ao nome dos pratos, como a lagosta com ressaca (marinada no uísque) ou o bife nas névoas — e já anda lotado todas as noites, frequentado sobretudo por gente da cidade.

E tem hotel que vai além das estrelas de seu chef para unir gastronomia e visitantes e ainda oferece atividades gratuitas para hóspedes e clientes do seu restaurante, como o Four Seasons George V, em Paris — mesmo sendo um dos maiores clássicos da hotelaria da cidade, está sempre na vanguarda. Seu restaurante Le Cinq, comandado pelo chef Eric Briffard, com duas estrelas no Michelin, agora oferece, além do menu sazonal estudado meticulosamente, atividades periódicas como degustação de grandes vinhos franceses na adega do hotel com o sommelier Eric Beaumard, sem custo.

Os hóspedes do hotel e clientes do Le Cinq ainda podem se inscrever, também gratuitamente, para o workshop de gastronomia que o próprio Briffard faz mensalmente, levando os participantes para uma manhã de compras no mercado seguida de aula de culinária — que termina com todos degustando os pratos preparados ali, acompanhados de uma taça de champagne.

A ideia comum a todos esses restaurantes é cultivar sabores internacionais sem abrir mão do frescor dos ingredientes tipicamente locais — e, na maioria dos casos, com menus substancialmente mais baratos no almoço nos dias úteis. O cardápio sazonal de almoço, com as “ofertas do mercado”, é oferecido pelo Le Cinq em dias úteis por € 110 (entrada, prato principal e sobremesa).

E há chefs que são tão badalados que a identidade do hotel e sua gastronomia chegam a se confundir em alguns casos. Da chamada haute cuisine do Sur Mesure (duas estrelas Michelin) à sua Cake Shop repleta de guloseimas e chocolates (poucos hotéis levaram a pâtisserie tão a sério), o chef Thierry Marx é, em parte, corresponsável pelo sucesso do hotel Mandarin Oriental, Paris desde a abertura, em 2011.

— O hotel traz até mim um ambiente de luxo que é conveniente ao meu trabalho e filosofia. Um hotel cinco estrelas tem um nível bastante alto de requisitos em excelência de serviço, o que é, definitivamente, o mesmo nível que eu tento alcançar com minha equipe na minha cozinha — disse Marx, quando esteve no Brasil em março.

A alta costura tão marcante na capital francesa foi homenageada na decoração do restaurante principal, repleto de branco e peças com status de arte, oferecendo menus degustação com seis ou nove passos (jantar a € 175 ou € 205), mesclando a cozinha francesa com os conhecimentos do chef sobre as tradições culinárias do Japão.

— Em um hotel de luxo de uma grande rede, tenho possibilidades de expressar diferentes tipos de cozinha em cada um dos meus restaurantes. Posso inovar no Sur Mesure; fazer uma cozinha mais simples e acessível no Camélia, e criar algo parecido com comida de rua, por exemplo, no Bar 8. Não sei se eu seria capaz de explorar aspectos tão diferentes da minha cozinha em um lugar menor — diz Marx.

Serviço

La Scéne: 33 Avenue Georges V. No Hotel Prince de Galles. la-scene-restaurant.com

Le Lulli: 4 Rue de Valois. grandhoteldupalaisroyal.com

Marignan: 12 Rue de Marignan. hotelmarignanelyseesparis.com

L’Abeille e Shang Palace: 10 Avenue d’Iená. shangri-la.com

Coquette: 4 Rue Meyerbeer. wparisopera.com

Le Cinq: 31 Avenue George V. restaurant-lecinq.com

Sur Mesure: 251 Rue Saint Honoré. mandarinoriental.com

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