sábado, 21 de setembro de 2013

A Riviera Francesa desvendada ao longo do ano

A Croisette, rua símbolo de Cannes, vista a partir da suíte Christian Dior, no Hotel Majestic.
Foto: Bruno Agostini / O Globo

O repórter Bruno Agostini, de O Globo, publicou nesta última quinta, (19), uma excelente reportagem sobre como se pode aproveitar a Riviera Francesa o ano todo, que reproduzo e recomendo a leitura, segue a peça:

Um roteiro para aproveitar a Riviera Francesa o ano todo

Banhadas pelo Mar Mediterrâneo, as badaladas Cannes e Antibes são ótimas opções também fora do verão

CANNES - No centro de Cannes existe uma loja de equipamentos de esportes e roupas de neve. Não se trata de um devaneio comercial. A menos de uma hora da cidade famosa pelo festival de cinema estão L’Audibergue e Gréolières, duas pequeninas e charmosas estações de esqui encravadas nos Alpes-Marítimos, e durante a temporada de inverno muitos visitantes se hospedam na cidade litorânea, e sobem as montanhas para deslizar nas pistas.

Na vizinha Antibes, a cerca de dez quilômetros de Cannes, eterno reduto de magnatas, e também de pintores e outros artistas plásticos, o cenário é inspirador. Paisagem tão sugestiva que até existe um circuito turístico pontilhado pela reprodução de alguns dos muitos quadros pintados neste balneário chique. Às vezes, a obra em questão retrata o panorama invernal, com as montanhas nevadas e as árvores desfolhadas, porque muitos desses artistas iam para lá no período mais frio do ano, aproveitando o clima ameno da região em relação às áreas mais ao norte da Europa. Sim, existe vida na Riviera Francesa fora dos meses mais quentes do calendário.

Mesmo quem não pretende praticar esporte de inverno, ou pintar quadros, também encontra razões para subir as montanhas. Porque nelas estão algumas das cidadelas mais charmosas da França, como St-Paul-de-Vence, vilarejo medieval que durante o verão fervilha de gente, e agora começa e ficar um pouco mais calmo e tranquilo, mas não menos belo, ou Mougins, terra de escolas de cozinha, e onde Picasso passou os últimos anos. Conforme nos aproximamos do final do ano, os prazeres da região vão deixando aos poucos de ser a combinação de sol, mar e badalação para dar lugar à boa mesa, à lareira, ao vinho tinto e ao ambiente romântico.

História e compras na cidade do cinema

Para além do glamour cinematográfico do Festival de Cannes, e das estrelas que pisam no tapete vermelho esticado nas escadarias do Palais des Festivals et des Congrès, na ponta oeste da Croisette, existe uma cidade com construções medievais bem preservadas, um porto de onde zarpam passeios de barco para ilhas mediterrâneas e uma seleção respeitável de hotéis, restaurantes e lojas de grife, à altura das celebridades que frequentam o balneário ao longo do ano. Em Cannes, mesmo no verão, a praia é só um detalhe.

Caminhar pela Croisette é a maneira mais charmosa e agradável de se chegar à área mais antiga de Cannes, passando pelo mercado provençal de Forville, uma daquelas tentadoras feiras que apresentam os produtos locais em barracas coloridas cobertas de delícias da terra, como os queijos de cabra biológicos produzidos nas cercanias, em seus diversos níveis de maturação, ou os barris de madeira repletos de azeitonas reluzentes.

Logo adiante encontramos as ladeiras que cortam o centro antigo de Cannes, um emaranhado de ruelas que conduzem até o alto da colina, de onde se descortina um panorama privilegiado da cidade e dos arredores, tendo a orla da Croisette e o Vieux Port, com Antibes ao fundo, de um lado, e parte do Golfe de la Napoule e o Boulevard du Midi Louise Moreau, que leva às praias mais ocidentais, do outro.

Dominando a paisagem, uma torre serve de marco geográfico. A Tour du Mont-Chevalier resiste ao tempo, e hoje, além de ser um mirante, também indica a localização do Musée de la Castre, cujo acervo guarda iconografia sobre a cidade, além de uma bela coleção de arte primitiva, com peças africanas e asiáticas, incluindo uma sala repleta de instrumentos.

Se a Croisette é o caminho mais charmoso, a Rue Meynadier é o mais “perigoso”, especialmente para os que não resistem às compras. Na mais famosa rua comercial de Cannes, junto com a Rue d’Antibes, cabem tentações para perfis variados: o vestuário é o forte, com grandes grifes e marcas locais, mas também há desde lojas de suvenires, cafés e restaurantes a açougues, padarias e queijarias. A Meynadier, rua de pedestres sempre cheia de gente, estreita e quase caótica, começa na parte antiga de Cannes, passando por detrás do porto, onde estão ancorados iates, muitos deles disponíveis para aluguel para passeios pelo Mar Mediterrâneo.

No final da Meynadier, a Rue Rouguière é uma discreta conexão entre dois eixos comerciais, nos fazendo chegar à Rue d’Antibes, na altura do icônico Splendid, um dos tantos hotéis clássicos de Cannes. Paralela à Croisette, a Rue d’Antibes é maior, com tráfego intenso de carros, e comércio mais elegante, dominado por marcas de luxo, de grifes de roupa a joalherias, de lojas de móveis e objetos de design a filial da Fnac.

Passear pelo porto rende belas fotos das diferentes embarcações que enfeitam o cenário. Algumas delas fazem passeios regulares,com roteiros variados, entre eles visitas às Îles de Lérins, arquipélago com quatro ilhas. Duas delas, maiores, recebem visitantes, e estão bem perto do continente — olhando da praia, até parecem uma extensão da Croisette. Sainte-Marguerite é a maior, com praias repletas de banhistas no verão, famosa por ter abrigado o lendário Homem da Máscara de Ferro, história misteriosa que ganhou o cinema em 1998, com direção de Randall Wallace, e Leonardo DiCaprio no elenco.

Logo em frente, separada por um canal repleto de barcos, com visitantes que aproveitam as águas calmas, está Saint-Honorat, cujo apelo são os aspectos históricos, já que não é possível se banhar nas suas águas claras, porque a ilha pertence a um monastério, o Monastère Fortifié de l’Abbaye de Lérins, que proíbe biquínis e afins. O passeio para cada uma das ilhas custa € 11, e inclui o barco e o ingresso na ilha.

Saint-Honorat é um lugar tão pitoresco que um mergulho nem faz falta. Logo na chegada encontramos um restaurante, La Tonelle, com vista para o mar, onde é possível beber uma taça de Taittinger (€ 13) e comer pratos como queijo de cabra grelhado com mel e nozes (€ 14,50), brochete de camarões (€ 75) ou frutos do mar “a la plancha” (€ 158, para duas ou até três pessoas). Nos dias de semana, há menus com entrada, prato principal e sobremesa por € 29,90. Ao lado está a lojinha que vende os vinhos produzidos na ilha pelos monges, que também cultivam oliveiras. São vários rótulos, entre tintos e brancos, como o Saint Sauveur, um syrah feito com uvas de um vinhedo antigo (€ 42). Os monges fazem milagres, e produzem até um pinot noir, o Saint Salonius, que custa nada menos que € 190. Além de vinhos, os religiosos vendem azeite, mel e essência de lavanda.

Caminhando pela Ilha Saint-Honorat chega-se à abadia, com seus jardins bem cuidados e atmosfera tranquila, e à torre que servia para proteger a ilha dos invasores, de onde se tem lindas vistas do lugar. Há quem se hospede ali, dedicando o tempo à contemplação da bela natureza local, à leitura e ao descanso.

Hospedar-se seguindo o modelo de simplicidade monástica está longe de ser regra em Cannes, muito pelo contrário. Além do Splendid, a cidade tem uma respeitável seleção de hotéis clássicos, que se espalham ao longo da Croisette. No número 10 da avenida à beira-mar, o Majestic Barrière está praticamente debruçado sobre o Palácio dos Festivais, e tem uma suíte com a assinatura de Christian Dior. Um pouco adiante, o Carlton, no número 58, é um dos prédios mais fotografados da cidade, símbolo da Belle Époque. É quase vizinho do Martinez, outro ícone de Cannes, que abriga o melhor restaurante do pedaço, o elegante La Palme d’Or, com duas estrelas Michelin.

Woody Allen, Picasso e absinto

Sentadas com disciplina oriental no chão do Museu Picasso, no centro antigo de Antibes, as crianças escutam a explicação da professora, atentas e interessadas. Enquanto isso, vão desenhando o que se vê na tela. Estão diante do quadro “La joie de vivre” (1946), com o perdão do trocadilho, verdadeira joia, uma das estrelas do acervo da instituição. Instalado numa antiga fortificação, o museu guarda parte importante da obra do pintor espanhol, incluindo uma rara coleção de pratos de cerâmica. A professora explica que a tela é uma paródia de outro quadro famoso, “Bonheur de vivre”, de Matisse, e fala sobre os aspectos estéticos da obra, as cores, as formas, a revolução artística que acontecia àquela altura. Há ótimos guias trabalhando no museu, mas pescar informações de uma aula externa dessas parece bem mais divertido.

Antibes é assim. Cheia de surpresas. O mar verde-esmeralda característico desta parte do litoral francês, no coração da Côte d’Azur, já é conhecido. A antiga tradição em atrair artistas, entre pintores, músicos e escritores, e milionários, com a combinação de paisagem idílica e temperaturas agradáveis, também, bem como as belezas do seu centrinho antigo. A cidadela à beira-mar tem uma marina cheia de iates inacreditáveis, como o Eclipse, do bilionário russo Roman Abramovich, dono do Château de la Croë, em Cap d’Antibes, a área mais chique do pedaço, cenário de mansões, helicópteros e embarcações de sonho.

— Aqui na Riviera, existe um culto aos cabos. Chique mesmo é estar em Cap d’Antibes, em Cap Ferrat, em Cap d’Ail — brinca, sem deixar de ter razão, Marianne Estène-Chauvin, dona do hotel Belles Rives, em Juan-les-Pins, que junto com Cap d’Antibes e Antibes forma um dos mais exclusivos circuitos turísticos de todo o Mediterrâneo.

O hotel em questão, se já é bem famoso, por ter sido residência do casal Zelda e Scott Fitzgerald, pode ficar ainda mais conhecido nos próximos anos.

— O próximo filme de Woody Alen, a ser lançado em 2014, terá cenas gravadas aqui — conta Marianne, que recentemente recepcionou o diretor norte-americano no bar do hotel, com direito a fotos postadas no Facebook dele sentado nas famosas poltronas com estampa de oncinha do bar.

A própria história do lugar já é motivo para uma visita. Para os que não pretendem se hospedar ali, vale investir em um drinque no bar, ou uma refeição no restaurante (ou, melhor ainda, os dois juntos). Nas paredes do piano-bar Fitzgerald vemos fotos em preto e branco de outros frequentadores famosos de Antibes, como Pablo Picaso, Jean Cocteau e Ernest Hemingway. No salão, há um bom pianista a postos, dedilhando um belo instrumento de cauda. Melhor sentar no terraço, debruçado sobre o mar, para acompanhar o espetáculo diário do sol morrendo ali defronte.

Depois de brindar com champanhe o final do dia, o restaurante La Passagère garante uma refeição impecável, preparada pelo chef Yoric Tieche, que trabalhou, entre outros, com Yannick Alleno, no Le Meurice, em Paris. O cardápio muda ao sabor das estações (€ 70, com couvert, entrada, prato principal e sobremesa), e reflete a influência italiana na região. Para começar, manteiga de anchovas e purê de fava com pimenta acompanham pães quentinhos. Peixes e frutos do mar brilham em receitas como a cavala com vinagre de gengibre e geleia de ponzu ou versões de pratos clássicos da região, como a bouillabaisse e a salada niçoise.

Além da vida que gravita ao redor de hotéis, restaurantes, café, boates e cassinos, esses dois últimos mais concentrados em Juan-les-Pins, o centrinho antigo de Antibes tem os seus encantos, a começar pelo circuito de quadros pintados na cidade, colocados no local onde teriam sido feitos. Podemos começar o roteiro artístico no mercado provençal da Cours Masséna, com aquele repertório de gostosuras que faz dessa uma das regiões mais saborosas do mundo, com vegetais, queijos, azeitonas, temperos... Os limões confitados de Antibes, por exemplo, são realmente sublimes.

Aproveitando que estamos ali, é fundamental uma visita ao Absinthe Bar, um tanto escondido, dentro de uma loja de suvenires. Descendo as escadas encontramos um salão com paredes de pedra, um museu da bebida, com cartazes antigos, garrafas e vários acessórios de serviço, além de uma coleção de chapéus. O dono estimula os clientes a usarem os adereços, tornando ainda mais divertido o ambiente antigo dessa construção do século IX.

— Não posso organizar nada pelas redes sociais, porque fica cheio demais. Preciso ser discreto — diz Frédéric Rosenfelder, dono da casa que lota noite sim, outra também e garimpador de peças relacionadas à bebida.

SERVIÇO

Para circular entre Cannes e Antibes, e outras cidades do litoral, e algumas nas montanhas, como Grasse, existe um eficiente sistema de transporte público, com ônibus confortáveis (€ 1,5, ou € 10, o passe de dez viagens) que transitam em intervalos regulares.

ONDE COMER:

Em Antibes

Oscar’s: 8 Rue du Docteur Rostan. Tel. 33 -4-9334-9014. oscars-antibes.com

Em Cannes

Le Parc 45: Le Grand Hôtel. 45 Boulevard de la Croisette. Tel. 33-4-9338-1545. grand-hotel-cannes.com

ONDE FICAR:

Em Antibes

Belles Rives: Diárias a partir de € 175. 33 Boulevard Edouard Baudoin, Juan-les-Pins. Tel. 33-4-9361-0279. bellesrives.com

Garden Beach: Diárias a partir de € 99. 15-17 Boulevard Baudoin, Juan les Pins. Tel. 33-4-9293-5757. hotel-gardenbeach.com

Em Cannes

Carlton: Diárias a partir de € 189.58 Boulevard de la Croisette. Tel. 33-4-9306-4006. intercontinental-carlton-cannes.com

JW Marriott: Diárias a partir de € 189. 50 Boulevard de la Croisette. Tel. 33-4-9299-7000. marriott.com

Majestic: Diárias a partir de € 200. 10 Boulevard de la Croisette. Tel. 33-4-9298-7700. lucienbarriere.com

Martinez: Diárias a partir de € 190. 73 Boulevard de la Croisette. Tel. 33-4-9298-7300. cannesmartinez.grand.hyatt.com

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