domingo, 5 de janeiro de 2014

"En attendant Godot" estreava em Paris há 61 anos




"En attendant Godot", apresentada pela primeira vez em 5 de janeiro de 1953, no Théâtre de Babylone em Paris, trouxe fama para seu autor, Samuel Beckett, um irlandês - a obra foi escrita em francês - e futuro Nobel de Literatura, considerado um dos fundadores do "teatro do absurdo".

"A respeito de Beckett só posso dizer o seguinte: gosto muito dele e o admiro profundamente. Sua amizade inquebrantável me é muito cara. Ele é uma pessoa realmente verdadeira, o que me surpreende sem cessar", declarou o jovem diretor teatral Roger Blin, na revista francesa Arts, meio ano após a estreia de Esperando Godot, de Samuel Beckett, no parisiense Théâtre de Babylone, em 5 de janeiro de 1953.

Embora a peça inicialmente tenha sido um sucesso apenas moderado de público, logo tornou o irlandês Beckett um autor conhecido. Ainda no mesmo ano foi encenada pela primeira vez na Alemanha, no Schlossparktheater de Berlim. Em 1954, o diretor Fritz Kortner a levou ao palco do Kammerspiele de Munique.

Em poucos anos, o público burguês aceitou a peça. Enigmática, aparentemente "absurda", ela passou a integrar o repertório dos grandes teatros, como um clássico moderno. Alguns dramaturgos, como Jean Anouilh, reconheceram desde o início o significado da obra de Beckett. "Godot é uma das obras-primas que deixam sem esperança as pessoas em geral e, especialmente, os dramaturgos. Não se pode fazer outra coisa senão tirar o chapéu – um chapéu-como, como na peça, claro – e rogar aos céus por um pouco de talento", disse.

Quem é Godot?

Quem, afinal, é Godot, por quem os vagabundos Estragon e Vladimir – ou Gogo e Didi – esperam em vão à beira de uma estrada deserta? Os críticos literários já lançaram uma série de hipóteses e especulações a esse respeito. Será que é apenas uma corruptela da palavra inglesa God com o diminutivo francês ot? Trata-se de um ciclista chamado Godeau, certa vez mencionado por Beckett, cujos heróis eram fascinados por bicicletas? Será que é o Godeau do livro Mercadet, de Balzac, por quem igualmente todos esperam? Ou trata-se da expressão anglo-irlandesa "Waiting for Godda", empregada pelos andarilhos no sentido de "esperar por Deus ou coisa assim"?

Não se sabe, ao certo, quem é Godot, mas isso não importa. "Nada a fazer" é a primeira fala da peça. A espera é o tema central da peça, a espera de duas pessoas que matam o tempo com palhaçadas e conversa fiada sobre suicídio, comendo nabos e brincando com seus chapéus. Dois vagabundos esperam, não se sabe por quê. Esperar significa deixar o tempo passar, não fazer nada. A brincadeira infantil do palco torna o tempo perceptível aos atores e espectadores.

Quando a peça estreou em Londres, em 1955, o crítico Kenneth Tynan fez a seguinte observação: "Não tem trama, não tem clímax, não tem desfecho nem começo, meio e fim." Exatamente por isso alguns críticos costumam definir Beckett como modernista da segunda geração, ao lado de Vladimir Nabokov, William Faulkner e Henry Miller.

Prêmio Nobel

Nascido em 1906, em Dublin, Samuel Beckett viveu a partir de 1937 na França, e lá faleceu em 1989. Considerado o pai do chamado "teatro do absurdo", seus personagens estão sempre procurando ou esperando alguma coisa, embora imprecisos e indecisos quanto ao objeto desejado. Abordando a morte e o vazio da vida, Beckett criou um humor amargo, sombrio, levemente absurdo na sua disposição de ser irônico e zombeteiro.

Em 1969, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Ele próprio encenou Esperando Godot diversas vezes, por exemplo, em 1975, no Schiller Theater de Berlim, onde também fez diversas outras montagens. Obras como Dias felizes, Fim de jogo, A última gravação de Krapp confirmaram a estatura de Beckett como dramaturgo da morte, da falta de sentido da existência, do apagar-se. E isso, sem sentimentalismo, sem ser sombrio; e sim com humor e ironia sutil. Suas peças são a matéria-prima ideal para os grandes atores.

(Artigo original publicado pela Deutsche Welle em 05.01.2014)

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