sexta-feira, 13 de junho de 2014

Anônimos de Paris são tema de projeto fotográfico

Alice Sant’Anna, que escreve na página Transcultura, publicada às sextas-feiras no Segundo Caderno do jornal O Globo, publicou uma excelente história sobre o projeto fotográfico "365 Parisiens", do artista russo Constantin Mashinskiy. Segue a peça:


Uma das imagens de “365 Parisiens”: irritação, constrangimento e timidez entre as reações dos abordados
Foto: Divulgação/Constantin Mashinskiy
Uma das imagens de “365 Parisiens”: irritação, constrangimento e
timidez entre as reações dos abordados. Foto: Constantin Mashinskiy

"Personagens anônimos das ruas de Paris são tema de projeto fotográfico
O russo Constantin Mashinskiy alimenta com imagens diárias a série ‘365 Parisiens’

Em dezembro de 2013, o fotógrafo russo Constantin Mashinskiy, que mora na França há três anos, foi abordado na rua por um rapaz que queria um cigarro. Ele então propôs uma troca: daria o cigarro se o garoto aceitasse posar para um retrato. O menino topou, olhou para a câmera e bateu em retirada. Foi aí que Mashinskiy teve a ideia de fotografar parisienses na rua, um por dia. Às vezes, encontra seu alvo em questão de segundos. Outras, perambula por mais de duas horas até achar alguém que o atraia. As reações são das mais variadas. Entre gente constrangida, irritada e tímida, teve um homem que se defendeu: “Não tenho dinheiro para te dar”. A série, que ganhou o nome de “365 Parisiens”, é atualizada todos os dias desde janeiro deste ano no endereço 365parisiens.tumblr.com.

São retratos enumerados, em preto e branco, sem nome, com uma breve legenda: a de número 166, por exemplo, estava de bom humor no fim do dia. O número 51 fazia palavras cruzadas logo antes da foto. O número 134 estava contando uma piada, apesar da expressão séria. O número 46 logo avisou: “Odeio sorrir”.

— Todas as fotos são resultado de encontros aleatórios — explica o fotógrafo, por e-mail. — Quando você anda na rua, não tem como prever em quem vai esbarrar. Algumas pessoas parecem familiares, mas no fim das contas são apenas estranhos, e você não sabe o que estão fazendo, para onde estão indo, quem estão esperando ou o que vão responder se você pedir para tirar uma foto. Na maioria das vezes, um olhar ou a maneira de ser de alguém já chama minha atenção.

Mashinskiy comenta também que se interessou em começar esse projeto quando percebeu que não tinha tempo a perder.

— Comecei a dar valor ao tempo como nunca dei antes. E agora eu dedico uma parte decente do meu dia para criar algo pessoal. Antes eu me dava muitas desculpas, me dizia “farei isso amanhã”, mas o tal “amanhã” não chegava nunca.

Essa não é a primeira série que “cataloga” anônimos interessantes. O site “Humans of New York” teve início no verão de 2010, quando o fotógrafo que assina simplesmente como Brandon resolveu clicar pessoas, adicionando um texto curto e uma marcação no mapa da cidade. A baliza que ele se estabeleceu foi ainda mais ambiciosa que a de Mashinskiy: decidiu que faria 10.000 retratos. O sucesso foi tanto que o blog humansofnewyork.com soma, hoje, quatro milhões de seguidores, e o livro entrou para a lista dos mais vendidos do “New York Times".

— Não tive como referência nenhum projeto atual — diz Mashinskiy, que tem recebido mensagens de incentivo para transformar o projeto em livro, embora ainda não tenha nenhuma data acertada. — O gênero de fotografia de rua existe há quase cem anos, e tenho certeza de que muitos clássicos atemporais me influenciaram. E encontrar esses exemplares em Paris não é tarefa complicada. A ideia para fazer no dia a dia veio para me forçar a levar a câmera para todos os lugares, como um exercício constante."

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