"Rive Gauche" passa o dia-a-dia de Paris e da França, com estilo leve, distraindo e levando o leitor à um passeio pela Cidade Luz e seus arredores. Nasceu como uma coluna dominical publicada no Jornal do Brasil e depois migrou para dois sites com atualizações semanais, o www.investimentosenoticias.com.br e o www.annaramalho.com.br e, além disso, conta com atualizações neste blog e no Facebook.
segunda-feira, 2 de março de 2015
Paris, minha mãe e o "penico do mundo"
Quando meu pai serviu em Madrid, ele e minha mãe fizeram amizade com um casal de espanhóis: Wenceslau Verde e Amélia que, tempos depois desembarcaram no Brasil e montaram dois negócios: os Cinemas Condor e a Condor Filmes.
Já no Brasil eles se tornaram muitos chegados de minha mãe, já separada de meu pai, a ponto de todo e qualquer fim-de-semana irmos, ela e eu, ao cozido (não era almoço, não: era cozido) de domingo em sua casa no alto do Jardim Pernambuco.
Lembro de tudo como se fosse hoje: Tio Wence com seu charuto, Tia Amelinha de bata, Carlos, Karla e Flavia (netos e meus amigos até hoje) e eu na piscina – rodeada de lindos jardins criados pelo paisagista Roberto Burle Marx – fazendo muita bagunça e recebendo broncas, o Jorge, copeiro, nos trazendo a grande novidade que era o guaraná em lata da Skol (no Brasil ainda não se produzia a folha de flandres, o que fazia que a lata fosse feita de um metal muito duro e pesado).
E ainda o Kiko Pinto e seus filhos Luciana e Carlos, o nosso dentista Agnelo e seu Puma conversível preto, o casal de dinamarqueses gigantes, caramba: quantas boas lembranças! Mas o que mais lembro é de uma frase que minha mãe sempre dizia quando estávamos para sair de casa, na Praia do Flamengo: vamos torcer para que hoje o penico do mundo não fique cheio.
Ela fazia referência à fama que o Alto Leblon e a Gávea tinham de estar sempre com nuvens (isso mudou hoje, acho que graças à ocupação urbana) e grande possibilidade de chover – apenas lá, diga-se de passagem.
Eu, com cinco, seis anos, achava muito engraçado essa história de penico mas o fato era que não raras vezes, realmente saíamos de casa com sol e chegávamos no Tio Wence com uma chuvinha de nada, mas era uma chuvinha.
Aqui em Paris estamos quase chegando na primavera e como sempre em relação às chuvas, Paris tem um padrão de regularidade, distribuindo-as durante o ano todo mas, entretanto, para surpresa, temos tido chuvas quase que diariamente sem exceção.
Não tem sido raro o dia que pego sol e chuva no mesmo dia, o que me fez comprar um guarda-chuva desses pequenos e dobráveis e com isso tudo, tenho me lembrado de minha mãe, do Tio Wence e da Tia Amelinha e mais ainda da frase sobre o penico do mundo - só que agora, acredito que ele seja aqui e não no Alto Leblon ou na Gávea.
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