sábado, 7 de março de 2015

Dólar em alta faz brasileiros trocarem Nova York por Paris

Dólar turismo abre negociado a R$ 3,12 - Márcia Foletto / Ag. O Globo


















Segundo reportagem de Rennan Setti, Lucianne Carneiro e Débora Diniz publicada ontem (6) o jornal O Globo, com dólar alto, viajar para Paris já é mais barato do que ir a Nova York - sendo que este movimento da moeda americana não se repete com o euro, que sempre foi visto pelos brasileiros como bem mais caro. Segue a matéria:

"O dólar comercial encerrou acima dos R$ 3 nesta quinta-feira, o que não ocorria desde 16 de agosto de 2004. A divisa fechou em alta de 1,04%, a R$ 3,011, tendo sido negociada a R$ 3,023 na máxima do dia. Nas casas de câmbio de São Paulo, o dólar turismo em espécie era vendido a R$ 3,20, segundo a firma de informações financeiras CMA. No Rio, a cotação era de R$ 3,13.

Mas esse movimento da moeda americana não se repetiu com o euro, que sempre foi visto pelos brasileiros como bem mais caro que o dólar. No mercado à vista, referência para o mercado financeiro, a diferença entre o dólar e o euro na comparação com o real foi de R$ 0,308. O dólar fechou cotado a R$ 3,003, e a moeda europeia, a R$ 3,311. É a menor diferença entre as duas divisas desde 4 de setembro de 2003, quando ficou em R$ 0,2775. Naquela ocasião, o dólar à vista estava em R$ 2,925 e o euro, em R$ 3,203. Ou seja, para os turistas, isso significa que a Europa pode estar valendo mais a pena que os Estados Unidos.

Simulação feita pelo GLOBO junto a agências de viagens mostra que um pacote de sete noites em Paris em hotel de classe turística já está mais barato que para Nova York na semana de 23 de março. Cotação feita pela Sóviagens Turismo para a cidade americana sai a US$ 1.349 por pessoa, em apartamento duplo, sem incluir taxas de embarque, impostos e encargos da agência. Para a capital francesa, o valor é de US$ 1.296.

— As viagens para a Europa estão ficando mais vantajosas, mas as pessoas ainda não perceberam isso — afirma a diretora da Sóviagens, Mariangela Botto.

Ela destaca que “os telefones estão parados” e quem já tem viagem marcada para os EUA está fazendo mudanças na escolha de hotéis, por exemplo, para amenizar o dólar mais caro.

COMPORTAMENTO DOS CLIENTES

Segundo a Express Tours, o valor de sete noites em Paris, com saída em 23 de março e hospedagem em hotel categoria turística, com translados de chegada e saída, custa US$ 1.690. Para Nova York, no mesmo período, o valor é de US$ 1.850. Em ambos os casos, as taxas de embarque saem por US$ 100.

A empresa já sente a diferença no comportamento dos clientes. Quem estava se programando para ir aos EUA está segurando o fechamento do pacote, à espera de que a cotação do dólar recue. Outros clientes começam a rever os destinos.

— A procura pela Europa tem crescido. Hoje os pacotes têm preço equivalente ao dos Estados Unidos e até mesmo ao de alguns destinos da América Latina — afirma Márcia Santos, gerente operacional da Express Tours.

As agências também já começam a tentar convencer os viajantes a trocarem os EUA pela Europa. O diretor comercial da Nascimento Turismo, Cleiton Feijó, a estratégia tem sido oferecer orçamentos para destinos europeus:

— Há um ano, essa diferença do dólar para o euro era de cerca de 30%, e hoje está em 10%. É bem mais atraente hoje viajar para a Europa que para os Estados Unidos, mas ainda não há essa percepção entre as pessoas, só entre os que acompanham mais esse mercado.

A preocupação dos viajantes, segundo Feijó, é com a oscilação das moedas — tanto o dólar quanto o euro —, que dificulta um planejamento mais claro dos custos da viagem.

Na Visual Turismo, o presidente Afonso Gomes Louro também percebeu aumento da procura por cidades na Europa, além da troca dos EUA por destinos no Brasil:

— Quando há oscilação da moeda, o cliente se retrai. Temos negociado com fornecedores, como hotéis, para reduzir o preço em dólar. E temos visto aumento da procura por Europa, mas também por destinos domésticos.

A CVC também tem observado aumento na procura pela Europa desde o ano passado, quando o euro registrou desvalorização. Isso porque, com as moedas quase equiparadas, as viagens para o continente estão mais atraentes para os consumidores.

— Somente em 2014, os embarques de brasileiros na CVC para a Europa cresceram mais de 20% que em relação a 2013, e temos empregado cada vez mais esforços para democratizar o acesso às viagens naquele continente. Além de oferecer promoções de “euro reduzido”, reformulamos nossos pacotes, ao incluir serviços como guias de turismo que falam português e transporte entre países pela Europa — conta Luiz Eduardo Falco, presidente da CVC.

Em 2014, a Europa foi o quarto principal destino internacional dos clientes da empresa, perdendo apenas para Miami-Orlando, Buenos Aires e Caribe. Na Europa, as preferências são por Madri-Barcelona (54%), Lisboa-Porto (27%) e Roma (17%).

BCE: ESTÍMULO COMEÇA NA SEGUNDA-FEIRA

Esse cenário não deve mudar tão cedo. O gerente de câmbio da TOV Corretora, Reginaldo Siaca, ressalta que a tendência da moeda americana ainda é de alta a curto prazo:

— O dólar ganha força diante da expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos, e ainda temos fatores internos, como as incertezas políticas, o racionamento, a inflação acima da meta e, agora, o mercado de trabalho. A curto prazo, a moeda americana vai ficar pressionada.

A tendência do dólar ontem foi de valorização global, subindo frente a 15 das 16 principais moedas do mundo. Mas foi o euro que mais chamou a atenção no mercado de câmbio: a moeda única europeia chegou a ser negociada abaixo de US$ 1,10, o que não ocorria há 11 anos. O euro acabou encerrando os negócios a US$ 1,1028, uma queda de 0,5%. Vassili Serebriakov, estrategista de câmbio do BNP Paribas, disse à agência Bloomberg que o banco prevê paridade entre dólar e euro já no início do ano que vem.

A desvalorização da moeda única europeia ontem se deveu ao anúncio dos detalhes sobre o pacote de estímulo financeiro na Europa. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, explicou ontem que as compras de ativos monetários, de € 60 bilhões por mês, começaram na próxima segunda-feira. Isso equivale a uma injeção de dinheiro nos mercados financeiros.

No cenário brasileiro, contribuem para a valorização do dólar as crescentes dificuldades políticas para o governo fazer o ajuste fiscal e uma intervenção menor do Banco Central no câmbio. Esta semana, a autarquia começou a oferecer diariamente a rolagem de 7.400 mil contratos do chamado swap cambial (venda de dólar no mercado futuro) que venceriam no mês que vem. Se mantiver esse ritmo, o BC irá deixar vencer US$ 2,2 bilhões do lote total de US$ 9,96 bilhões com vencimento em abril. Para rolar tudo, o BC deveria estar oferecendo diariamente 9.500 contratos."

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