A repórter Natasha Mazzacaro publicou no último dia 22, no Caderno Boa Viagem do Globo Online, uma excelente matéria sobre a estação de ski de Val Thorens, eleita a melhor estação de esqui do mundo, pela World Ski Awards e cujo vilarejo tem apenas um quilômetro quadrado e conta com uma boate subterrânea, queijos e até mergulho em um lago congelado. Segue a peça, que recomendo a leitura:
"VAL THORENS — Foi por puro e completo capricho do destino que Val Thorens permaneceu, durante séculos a fio, como um dos segredos mais bem guardados da França. Todo ano, assim que a primavera dava os primeiros sinais de sua chegada, alguns poucos pastores iniciavam uma subida rumo às gigantescas montanhas da região de Savoie.
Durante o período mais quente, eles dormiam em casas rústicas feitas de pedra, comiam o que caçavam e caminhavam por horas com seu rebanho de ovelhas. Antes do inverno, lá faziam eles o caminho de volta, deixando para trás o tal segredo, que só seria revelado nos anos 1970.
Foi há exatamente 43 anos que um grupo de intrépidos esquiadores decidiu fazer uma excursão pelos altos — e inexplorados durante o frio — cumes da região. Impressionados com a cadeia de montanhas esquiáveis, resolveram instalar uma base para a prática do esporte. Hoje, Val Thorens é considerada como a melhor estação de esqui da França e do mundo, título dado pela World Ski Awards, em 2013/2014 e 2014/2015. Não é difícil entender o porquê.
Para começar, o resort a 2.300 metros de altitude é o mais alto da região de Trois Vallées (onde o vilarejo está localizado) e da Europa. Logo, é também a primeira de todas as estações de esqui a ter neve. A área esquiável dá inveja às concorrentes: são 600 quilômetros de pistas, que se dividem entre pretas, vermelhas, azuis e verdes (há mapas com localização, telefone de socorro e horários de funcionamento na oficina de turismo). A variedade é tão grande que é possível esquiar ao sol, durante todo o dia.
— Como temos neve mais cedo, nosso período de abertura também é mais longo. Vai de 22 de novembro a 10 de maio. Mesmo no verão, nossa neve é leve e porosa. Em abril, quando as outras estações começam a fechar, há muitos atletas que vêm para Val Thorens — ressalta Eric Bonnel, diretor da oficina de turismo local. — Outra vantagem é que Val Thorens é um resort ski in/ski out ou ski aux pieds, o que quer dizer que há neve na porta dos hotéis e que os turistas não precisam pegar transporte para começar a esquiar.
Com uma cadeia tão majestosa de montanhas, pode ser difícil decidir por onde começar. Se o tempo for curto, a instrutora de esqui e mãe do atleta Adrien Theaux, Fabienne, dá a dica:
— Num dia inteiro, é possível fazer um roteiro saindo da vila, passando por Méribel-Mottaret (o filé mignon para se esquiar na região), Saulire (uma das pistas mais bonitas e ponto obrigatório) e Courchevel-Le Praz.
De alguns pontos, dá para ver mais de cem picos franceses, suíços e italianos, incluindo o mais pop de todos, o Mont Blanc. E nem é preciso esquiar para fazer parte do público que assiste a esse espetáculo selvagem. Caminhada com raquete é bem popular nos Alpes franceses.
A estrutura colocada sob as botas convencionais não se parece em nada com o acessório para jogar tênis, na verdade. Trata-se de uma base de plástico que desliza sobre o gelo, soltando apenas a parte que fica atrás do pé. Por isso, é possível caminhar normalmente. A geringonça é esquisita, mas a sensação de que alguma coisa está fora da ordem dura muito pouco.
A guia Brigitte Ruff faz dois tipos de passeio: um que dura o dia todo (com piquenique num refúgio de montanha) e outro, meio dia. A mais curta começa na igreja e atravessa a primeira pista de esqui — de onde se tem uma charmosa vista das casas de pedra de Val Thorens. A partir daí, o cenário se torna cada vez mais selvagem, com destaque para a Aiguille de Péclet, o ponto mais alto da região, com 3.562 metros de altura. O trecho final tem vista para o Vallé de Belleville, cercado por um mar de montanhas e de nuvens, que formam um lago de “algodão doce”. Nesse momento, Brigitte saca da bolsa uma garrafa térmica com chá adoçado com mel de Savoie, que esquenta o corpo e dá a sensação de que não falta mais nada no mundo.
Como não há pinheiros acima de 1.800 metros, a estação parece estéril, mas há muita vida por ali, como comprovam as patinhas carimbadas na neve. Há marmota, raposa, camurça, íbex, sapos (eles hibernam protegidos pelas rochas durante o frio)... Dizem que caminhando cedo ou à noite, é possível ver algumas dessas espécies. Não deixe de prestar atenção também nas estrelas perfeitas que ficam presas no cabelo, quando neva.
Outro programa imperdível é escorregar pela maior pista de trenó da França. O circuito tem sete quilômetros de extensão e abre duas vezes por semana para uma aventura à noite, iluminada apenas por lanternas de cabeça. Não gostou? Val Thorens tem tirolesa de 1,3 km a 300 metros de altura; pista de corrida sobre o gelo que leva o nome de Alain Prost; e até mergulho no lago congelado! Sim, você não leu errado. Quem já fez e viu bolhinhas de ar escorregarem contra o teto de gelo, garante que a experiência é excepcional.
QUEIJOS E BOATE SECRETA NO APRÈS-SKI
O vilarejo de Val Thorens, delimitado por lei em um quilômetro quadrado, também oferece diversas atividades après-ski. A igreja local promove concertos gratuitos de jazz e música clássica toda terça-feira, às 18h30m. No Centro Esportivo, há lojinhas de materiais esportivos, piscina e sauna, que se pode desfrutar, pagando uma taxa de day use. O restaurante La Folie Douce tem DJs à noite. Mas o mais o impressionante talvez seja a casa noturna Malaysia.
À primeira vista, o lugar parece um pequenino chalé de madeira. Mas basta descer as escadas, logo após a entrada, para comprovar o título de maior boate em montanha da Europa. A casa subterrânea é gigantesca e tem DJ e bandas diariamente, com entrada gratuita. É o point de Val Thorens depois das 23h.
Quando amanhecer, não deixe de conferir o contraponto das esculturas de madeira típicas na oficina de turismo (trabalho de um artesão de Saint Martin) e dos grafites feitos por vários artistas franceses, no estacionamento público da estação.
Val Thorens é uma vila nova, com apenas 500 habitantes durante o verão (no inverno, são cerca de dois mil). Por isso, não há lojas muito tradicionais. Mas, estando na França, se torna compulsória uma visita às charcuteries locais, como a La Belle en Cuisse ou a La Ferme de Thorens. Não deixe de experimentar reblochon fermier, beaufort e tomme de Savoie, queijos típicos dos três vales.
— O reblochon tem a consistência de um gruyère e é delicado e perfumado. Já o tomme é bem forte. Parece um queijo de cabra, apesar de ser feito com leite de vaca — explica Roman Logeais, da Belle en Cuisse.
Fabienne (a instrutora de esqui, mãe do atleta Adrien Theaux) diz que a receita dos campeões é a tartiflette de reblochon, com vinho branco, batata, ervas, bacon e creme de leite fresco. Nessas lojinhas, há outra joia típica: uma bebida alcoólica feita com génépi, uma delicada flor que nasce nas montanhas, durante a primavera.
Val Thorens está preparadíssima para receber os turistas brasileiros, como prova Eric Bonnel, diretor da oficina de turismo, com seu “bom dia” em português perfeito (ele passou a infância no Rio). Quer mais? O Club Med, que tem 15 resorts de neve na França, abriu em meados de dezembro sua mais nova unidade ali. E quem é o chef de village? O paulista Daniel Guimarães.
— Dentro do ranking do Club Med, atualmente os brasileiros são a primeira nacionalidade nos resorts de esqui, depois dos franceses. Dos seis mil que vêm para os Alpes italianos, franceses e suíços, 1,6 mil se dirigem para Val Thorens nessa temporada. E olha que nós acabamos de abrir — ressalta Guimarães, que é casado com uma brasileira que também trabalha na estação.
O hotel foi construído em um ano e meio e substitui o antigo resort do grupo na região. A decoração é bem diferente de seus similares de montanha. Em vez de tons escuros, o prédio tem um ar clean, com quartos recheados com peças de madeira clara e cor-de-rosa, lareiras eletrônicas e janelões com vista para as montanhas.
O ar “jovem” começa logo na recepção, cujo pé-direito de 17 metros serve como parede de escalada. O complexo também tem spa, loja, um bar estiloso e dois restaurantes. Um deles, o Epicure, é comandado pelo chef Edouard Loubet, estrelado pelo Guia Michelin. A carta de vinhos, bien sûr, é variada, com rótulos de várias partes do mundo que vão de €14 a €15 mil.
No primeiro andar, outra novidade: um armário para cada quarto, que é aberto com a mesma chave do apartamento. Se você avisar que está chegando, o hotel coloca o seu material de esqui lá. Há instrutores que falam inglês, hebraico e português, idioma que também está em placas por todo o hotel, acompanhado de uma bandeirinha verde e amarela.
Natasha Mazzacaro viajou a convite do Club Med. Fotos de Natasha Mazzacaro / Agência O Globo.
COMO CHEGAR
A estação de esqui de Val Thorens fica a cerca de duas horas e meia de carro de Lyon, na França. Há ônibus, táxis e empresas de transfer que fazem o percurso. Ida e volta de ônibus custam cerca de €115 (R$ 353).
ONDE COMER
Epicure: Comandado pelo chef Edouard Loubet, estrelado pelo Guia Michelin, o restaurante tem menu francês e adega variada e fica dentro do Club Med. Saint Martin de Belleville
Jean Sulpice: Chef nascido no vilarejo, com duas estrelas Michelin. Pratos preparados com ingredientes locais e apresentação moderna. www.jeansulpice.com
La Belle en Cuisse: Queijos e frios. Rue Arcelle 1, Val Thorens
La Ferme de Thorens: Queijos e frios. Centro comercial de Caron
ONDE DORMIR
Club Med Val Thorens: All inclusive, o resort oferece aulas de esqui e ski pass no pacote. De R$ 3.017 a R$ 8.029 por pessoa (mínimo de 7 diárias). wwwclubmed.com.br
Fitz Roy: Suítes a partir de € 378 (R$1.163). www.hotelfitzroy.com
PASSEIOS
Circuit de glace Alain Prost: Tel: (33) 674-782-513
Malaysia: A boate tem entrada gratuita. Place Caron
Mergulho no lago congelado: Ice Diving, tel: (33) 658-146-315
Passeio com raquete: Roteiros de um dia e de meio dia. De €22 (R$ 67) a €40 (R$ 123). www.raquettenature.com
Tirolesa: Sommet du TS de Plan Bouchet. Tel: (33) 479-000-708
Trenó: A € 14 (ou R$ 43 para quem já tem ski pass) ou € 22 (R$ 67). Chalet Luge au Rond Point des Pistes. Tel: (33) 479-000-708
Informações turísticas: Dicas e detalhes sobre passeios e transporte a Val Thorens estão no site www.valthorens.com
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