Deixei para escrever hoje – já perto das semi-finais da Copa do Mundo no Brasil para deixar claro realmente entendo quase nada de futebol e que torço no dia-a-dia, em proporções iguais, para o Flamengo e para o Botafogo – mas não necessariamente nesta ordem.
Melhor explicar essa minha relação adúltera com os dois times cariocas.
Tive um irmão, Aroldo – infelizmente falecido precocemente aos 33 anos em 1985 – que era flamenguista doente, daqueles que sabiam a escalação de todos os times, de todos os anos e de todos os campeonatos e que, além disso era amigo de jogadores do time, como do Doval, um atacante argentino que chegou ao Flamengo em 1969, a ponto de saírem de noite juntos e de tomar café da manhã em um bar da Rua Dias da Rocha – onde morávamos – quase todos os dias.
Esse tipo de farra fez com que ele deixasse o clube em 1971 mas, voltando ao Aroldo, o ponto era simples: eu detestava futebol e ele me forçava a ser Flamengo, senão me dava uns cascudos.
De outra parte, meu primo Ricardo, descendente de uma linhagem de botafoguenses ilustres, e que morava com minha avó Marta (seus pais moravam em SP) a quem eu sempre ia visitar em seu apartamento na Praia do Flamengo.
Muitas vezes chegava lá e o Ricardo, antigamente bem maior (era 8 anos mais velho) do que eu, estava jogando futebol de botões com outros primos como o Marquito ou mesmo com seu pai, Fernando, que vinha visitá-lo e quando perguntavam meu time e eu respondia Flamengo, era uma chuva de cascudos.
Então com o passar do tempo e dos cascudos do Aroldo e os do Ricardo, fui aprendendo a gostar dos dois times e, hoje em dia morando na França, olho para traz com muita saudade.
Mas voltando ao Galvão, essa já é minha segunda Copa do Mundo em solo francês e, como na de 2010, ainda me surpreendo com a locução sem vibração e com os comentários mornos da equipe de comentaristas da TF1, emissora que retransmite os jogos por estas bandas.
É um verdadeiro pesadelo: os caras torcem contra, não param de falar mal da Seleção e do Felipão (que insistem em chamar de “selesal” e "Filipal" por conta do sotaque) mais o pior é que a narração tem a emoção de um documentário sobre a avassaladora agilidade de uma preguiça à beira de sua morte.
No último jogo, para piorar, em vez de ficar em casa como todos os meus sentidos diziam, fui a pé até um bar – que graças ao bom Deus era perto de minha casa – bem próximo, no boulevard Henri IV, onde se prometia ambiência brasileira, com petiscos e bebidas brasileiras (meu interesse era guaraná, é claro).
Imaginar que atravessei duas pontes e uma nesga da Île de Saint Louis para ir ao tal bar me deixa até agora embrulhado – o local era um misto de Clipper no Leblon - mas sem o seu charme, com o barulho e o aperto do antigo Mosca, nas proximidades da antiga Faculdade da Cidade, na Lagoa.
Encontrei com cinco ou seis gatos pingados que já conhecia e outros tantos que nunca tinha visto mais barulhentos e, quando a moça do meu lado começou a pedir o Galvão de volta, pensei, ela tem razão, vou correr para casa, colocar na Globo.com e ouvir a narração em português, pelo menos.
Cheguei em menos de minutos, coloquei na Globo.com e esperei carregar e nada: o vídeo não pode ser exibido fora do território brasileiro. Nesta hora, como em um surto psicótico, disse para minha mulher: estou com saudades do Galvão Bueno, definitivamente, quero o Galvão de volta na minha vida, ainda não sei bem como, mas quero.
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