"Rive Gauche" passa o dia-a-dia de Paris e da França, com estilo leve, distraindo e levando o leitor à um passeio pela Cidade Luz e seus arredores. Nasceu como uma coluna dominical publicada no Jornal do Brasil e depois migrou para dois sites com atualizações semanais, o www.investimentosenoticias.com.br e o www.annaramalho.com.br e, além disso, conta com atualizações neste blog e no Facebook.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Há 215 anos Napoleão conquistava o Cairo
Depois de longa viagem com uma frota superior a 400 navios e vários dias de combate contra os mamelucos, Napoleão entrou no Cairo no dia 22 de julho de 1798.
"Os incrédulos que vieram para vos combater têm unhas do comprimento de um pé, bocas enormes e olhos assombradores. São selvagens possuídos pelo demônio e vão unidos por correntes para os campos de batalha." Com essa descrição, o general mameluco Ibrahim tentava usar meios psicológicos para preparar seus soldados para a defesa do Cairo.
Os inimigos eram os franceses, que acabavam de chegar à margem ocidental do rio Nilo. Eram 40 mil soldados que, apenas 19 dias antes, haviam desembarcado em Alexandria e tomado a cidade portuária sem sofrer perdas dignas de menção.
Era um exército formidável, que partira da França para conquistar o Egito. Vinha com 400 navios, entre eles 13 de combate, 42 fragatas e 130 de transporte, sob o comando de um general famoso: Napoleão Bonaparte.
O Diretório - poder executivo reinante na época em Paris - havia planejado a conquista da Inglaterra. Vendo que a marinha francesa não tinha qualquer chance de derrotar a esquadra inglesa, Napoleão Bonaparte rejeitou o plano. Em vez disso, executou um projeto que mantinha na gaveta há muito tempo: bloquear as rotas comerciais britânicas em direção à Ásia, através da ocupação do Egito e do Oriente Médio.
Em apenas dois meses e meio, Napoleão conseguiu recrutar uma força armada que, em vez de "exército inglês", foi chamado de "exército egípcio" e zarpou de Toulon.
Depois de ocupar Alexandria, Napoleão enviou um apelo aos egípcios. "Ó, xeques, cádis, imames e oficiais da cidade: digam à vossa nação que os franceses são amigos dos muçulmanos. Prova disso é que eles, em Roma, destruíram o Vaticano, que sempre conclamou os cristãos à luta contra o Islã.
Eles também expulsaram os cavaleiros de Malta, que diziam combater os muçulmanos em missão divina. Os franceses sempre foram amigos do sultão otomano e inimigo de seus inimigos. Os mamelucos negavam-se a obedecer ao sultão e só o faziam para satisfazer sua ganância. Abençoados sejam os egípcios que concordam conosco."
Napoleão queria aparecer como o libertador do país, que pertencia ao Império Otomano, mas, na realidade, era dominado pelos mamelucos. Descendentes de escravos militares eslavos e caucasianos, os mamelucos enfrentavam divisões internas, mas dispunham de uma poderosa cavalaria.
Também o general francês tinha grande respeito pelos cavaleiros mamelucos, mas percebeu logo que eles ainda usavam estratégias medievais. Assim, deixava-os atacar primeiro, para dizimá-los à curta distância com os mosquetes de sua infantaria.
Quando os mamelucos finalmente bateram em retirada, deixaram para trás milhares de mortos e feridos. Como prêmio pela vitória, os franceses, esgotados pela marcha para o Cairo, saquearam suas vítimas. A França tivera um saldo de apenas 29 mortos e 260 feridos.
Em 22 de julho de 1798, Cairo capitulou. Dois dias depois, Napoleão entrou na cidade. Assim como acontecera em Alexandria, ele estava decepcionado. Mas, num primeiro momento, a invasão francesa revitalizou o interesse artístico e acadêmico pelo Egito. A idéia de devolver o país ao Império Turco-Otomano (com capital em Constantinopla) foi logo abandonada. Ao contrário: em seu avanço rumo à Palestina, os franceses logo entrariam em conflito com os turcos.
A suposta amizade franco-egípcia, proclamada por Napoleão, não durou muito. Os primeiros sinais de resistência da população do Cairo foram reprimidos sem piedade. Em outubro, quando um confidente de Napoleão foi assassinado por uma multidão revoltada, o general ordenou a destruição da mesquita e universidade de Al Azhar (então de mais de 800 anos) – até hoje, um dos principais centros de pesquisas do islamismo.
Os franceses tiveram ainda outra surpresa desagradável: poucos dias depois da conquista do Cairo, o almirante inglês Horatio Nelson destruiu a frota napoleônica próximo a Alexandria, liquidando 1.700 franceses. E a marcha napoleônica para a Palestina terminou em Akko, novamente com pesadas perdas no lado francês.
A essas alturas, Napoleão já havia retornado à França para assumir o poder. O general Kléber sucedeu-o como comandante no Egito, para onde as tropas francesas foram obrigadas a recuar, sob pressão dos turcos e dos ingleses. Kléber foi assassinado por um fanático muçulmano, num ato de vingança pela destruição de Al Azhar.
Napoleão havia prometido aos seus soldados que eles voltariam ricos do Egito. Mais de um terço foram mortos no Oriente Médio; os demais voltaram derrotados para casa. O sonho do general, de destruir o Império Turco-Otomano, também não se tornara realidade.
(Artigo original publicado pela Deutsche Welle em 22.07.2013)
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