domingo, 28 de setembro de 2014

O Plaza Athenée revisitado




O Caderno ELA do jornal O Globo, publicou em sua edição online ontem (27) uma excelente reportagem de Cleo Guimarães sobre a revitalização do Plaza Athenée, totalmente reformado para comemorar os seus cem anos e cuja expansão incluiu mudanças no restaurante de Alain Ducasse. A seguir reproduzo a peça e recomendo sua leitura:

"PARIS — A fachada com gerânios e toldos vermelhos na Avenue Montaigne continua igualzinha. Mas lá dentro do Plaza Athénée novidades não faltam. A começar pelo tamanho: o “Plazá” (para os íntimos), um clássico da sofisticada hotelaria parisiense que acaba de completar cem anos, aumentou consideravelmente.

Depois de dez meses fechado para uma “reforma de expansão”, ele reabriu com mais seis quartos, oito suítes, um salão de baile e dois espaços para eventos, e agora se apresenta como um hotel haute couture, com ambientes batizados em homenagem ao mundo da moda. Isso sem falar num upgrade geral no Dior Institut, o spa da Dior, e também em seus quartos, que já eram de cair o queixo.

A suíte 750, para onde fui levada por um funcionário simpático e que se ofereceu, em português, para desarrumar as minhas malas — “morei alguns anos no Riô e em Arraial D’Ajudá”, explicou —, tinha dois andares e decoração sóbria. Era um latifúndio de 150 metros quadrados, o maior dos quartos art déco.

Segundo a equipe do Plaza, tudo neste ambiente foi pensado para que o hóspede se sinta “em seu próprio apartamento” na cidade — como se fosse muito normal uma sauna privativa numa cobertura com vista de 360 graus de Paris — Torre Eiffel, ali pertinho, incluída.

O Sultão não economiza

O quarto tinha sofás bordados com fios de bronze, móveis de madeira ébano Macassar, banheiro todo de mármore de carrara... mas, quer saber? No meio disso tudo, foram os detalhes que realmente chamaram a minha atenção e me fizeram pensar: “Mas esses caras sabem das coisas...”. Ter dois frigobares, por exemplo. Um em cada andar, para você não ter que descer caso sinta sede no meio da noite e estiver lá em cima, naquela cama enorme com oito travesseiros deliciosos (eu contei). Faz a maior diferença.

E as tomadas? Elas são muitas, estão espalhadas por vários cantos — quem viaja com iPhone, iPad e que tais sabe como isso é bom. Bruno Moinard, um dos designers de interiores que cuidou da reforma do hotel, também sabe: “Nosso luxo é encontrado nos detalhes, no que não fica à mostra, em surpresas”. Touché.

A comparação com as casas de alta costura da vizinhança também tem a ver com os funcionários.

Assim como os colaboradores do mundo fashion, eles trabalham feito loucos nos bastidores para deixar tudo tinindo — a diferença é o humor: no Plaza (e na maioria dos hotéis realmente bacanas), eles estão sempre com um sorrisão na cara, ao contrário daquelas verdadeiras feras que costumamos encontrar nos backstages de uma Fashion Rio da vida. “São eles que fazem tudo funcionar”, diz o diretor-geral, François Delahaye. Tanto bom humor e educação não vem de graça. O hotel, que faz parte da Dorchester Collection (literalmente, a coleção de hotéis de luxo do Sultão de Brunei espalhados pelo mundo, que inclui o Dorchester, em Londres, e o The Beverly Hills, na Califórnia, entre outros), investe pesado no treinamento da equipe. Nas palavras de Delahaye, com o Sultão não tem miséria: ele gasta “uma quantidade absurda de dinheiro” especificamente nisso.

Nota-se. Dos garçons telepatas ao concierge, que, se você pedir, parece capaz de conseguir qualquer coisa — de um prosaico pão de queijo a um lugar na primeira fila do desfile mais disputado da temporada —, incluindo a arrumadeira, que elogia o seu vestido quando te vê passar, todos ali se esforçam para fazer o hóspede se sentir especial. Dinheiro muito bem aplicado, Sr. Delahaye.

E a gastronomia?, você deve estar se perguntando. Bem, a novidade neste quesito acontece Alain Ducasse au Plaza Athénée. Além do design incrível (repararam os bancos com encostos espelhados?), o restaurante, que continua com três estrelas no Guia Michelin, fez uma reforma filosófica: o chef não serve mais qualquer prato com carne, passando a oferecer um menu “ético”, com destaque para peixes, legumes e cereais orgânicos. Por mais tradicionais que sejam, também perderam espaço as receitas com açúcar, cremes ou manteigas.

Para os menos organicamente corretos, seria mais ou menos como se o Jobi deixasse de servir frituras. Trocasse a carne-seca pela carne de soja. Mas até nisso o hotel tem uma solução caseira, digamos assim: quer cair fundo no entrecôte com batatas gratinadas? Corra para o La Cour Jardin, no jardim interno, coladinho ao espaço de Ducasse. O prato é um dos mais pedidos, daqueles que te fazem imaginar, enquanto mastiga: “Como pode ser tão bom?”."

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