quinta-feira, 1 de maio de 2014

A Bourgogne em Paris

O repórter Bruno Agostini, de O Globo, publicou nesta última terça, (29), uma excelente reportagem sobre o melhor da Região de Bourgogne em Paris, segue a peça:

Duas embaixadas informais da Borgonha em Paris

  • Bar de vinhos e restaurante temático servem apenas rótulos da região francesa


Vinho branco com petiscos no Ambassade de Bourgogne Foto: Bruno Agostini / O Globo

Vinho branco com petiscos no Ambassade de Bourgogne Bruno Agostini / O Globo


Ao saber que eu estava em Paris, o amigo enófilo Eugênio de Oliveira logo me deu a dica preciosa: “Bruno, não perca a Ambassade de Bourgogne, só vinhos da Borgonha". Diante de indicação tão interessante vindo de uma fonte confiável, programei a visita para o dia seguinte. Enquanto fazia o check-in no hotel Prince de Galles, pedi ao concièrge para pegar indicações do lugar e fazer uma reserva. Ao ver que eu tinha amplo interesse pela região onde reinam as uvas pinot noir e chardonnay, ele me deu uma outra boa dica.

— Se o senhor gosta da Borgonha também precisa conhecer o restaurante Les Climats. A carta só tem vinhos de lá, e a cozinha é especializada nos pratos locais — sugeriu. — Além de tudo, é bem perto da Ambassade de Bourgogne, que é um bar de vinhos e lojas, tem petiscos, mas não é lugar para jantar — sugeriu, completando para deixar o programa ainda mais imperdível diante da coincidência geográfica.

A distância entre um e outro, na Rive Gauche sempre cheia de brasileiros neste início aprazível de primavera, era de dez ou 15 minutos andando, calculou. E lá fui eu numa feliz caminhada no final de tarde fresco e ensolarado de Paris. Aproveitando o clima ameno daquela sexta-feira desci a Avenue George V até encontrar o Rio Sena. Na Rive Droite fui acompanhando o seu traçado, observando o tráfego dos barcos navegando com turistas e mercadorias. Por puro capricho resolvi cruzar a Ponte Alexandre III, a mais linda entre todas as de Paris, com as suas luminárias rebuscadas e estátuas de querubim, ninfas e cavalos alados.

Cheguei de modo triunfal à Rive Gauche, e continuei a caminhada ao longo do Quay d’Orsay até alcançar o museu de mesmo nome, com a rica coleção de impressionistas, e o relógio que é famoso cartão-postal. Desci a Rue du Bac até chegar à Rue de Lille, onde no número 41, a poucos passos da esquina, está o restaurante Les Climats. Dei uma espiada na fachada discreta, e segui em frente, rumo à “representação diplomática” da Borgonha em terras parisienses.

Segui pela Rue du Bac, com uma olhadinha no movimento do Atelier de Joël Robuchon (no número 5 da Rue Montalembert), que ficou para a próxima visita, até chegar ao emblemático e sempre movimentado Boulevard Saint-Germain. É sempre bom passar em frente, mesmo sem parar, às aprazíveis mesas externas, do Café de Flore e do Les Deux Magots. Continuei a caminhada até chegar à Rue de l’Odéon, onde logo no número 6 está a Ambassade de Bourgogne, bem perto do movimentado Carrefour de l’Odéon.

O lugar é pequeno, como as vinícolas da região, e com uma lista de rótulos diversificada, como são os seus vinhedos e os seus vinhos. Paredes cobertas de garrafas, das denominações mais variadas, montam raro repertório. Para um amante dos vinhos brancos, foi ótimo ver que eles são maioria entre os vendidos em taça (14, com preços entre € 4 e € 20; contra dez tintos, preços de € 4 a € 19,50; mais um espumante, um Aligoté e um rosé).

O local também funciona como loja, com cerca de mil rótulos, dos mais variados, incluindo raridades como um Clos de Tart 1947 (Mise Van de Meulen), vendido por € 1.450. Quem quiser beber ali mesmo uma garrafa dessas paga € 15 de taxa de rolha. Há algumas safras antigas, mas esta não é a especialidade da casa, com esmagadora maioria de vinhos de 2005 para cá. Mas quem gosta de brancos envelhecidos pode pedir rótullos como o Bâtard-Montrachet Henri Clerc 1990 (por € 200). Pedi uma taça de Chassagne-Montrachet e outra de Chambolle-Musigny, para acompanhar o prato de frios, com presunto cru e salames, e a cestinha de pães.

Depois do aperitivo inspirador, hora de seguir para o jantar. Caminhada curta, e logo já estava de volta à Rue de Lille, à porta do Les Climats. Garrafas fazem parte da decoração. São nada menos que 8.500, totalizando 2.220 rótulos de “rouges” e outros 580 de “blancs”, somando 184 “vignerons”, com preços de € 15 a € 5.388. Só Borgonha. A carta de vinhos é um guia, um livro (que pode ser comprado) que explica as diferenças entre cada denominação, cada vinhedo, ilustrado com mapas e bom suporte de textos. Para quem gosta do assunto, dá para gastar um bom tempo ali, só folheando a lista.

Para começar escolhi uma taça do simples mas gostoso Bourgogne-Aligoté 2010, do Domaine Christophe Grandmougin, que acompanhou não só o couvert e o amuse bouche, com um admirável pão tipo gougère, bem como a entrada, um saboroso prato de escargots de Bourgogne (€ 22) em interessante composição que incluída cubinhos de bacon e uma vistosa massa crocante de queijo recheada com um tipo de fonduta. Coisa bonita, e gostosa.

Em seguida, um “boeuf” apimentado em molho de pinot noir, que veio escoltado por um vinho desta mesma uva, um instigante Gevrey-Chambertin Vieilles Vignes 2011 de Philippe Labet, tão jovem quanto saboroso. Resisti a pedir um prato de queijo Epoisses (€ 12), ou a seleção da Maison Androuet (€ 16), bem como as sobremesas (todas a € 14).

Fui embora feliz como quem andou comendo e bebendo bem. Enquanto a noite caía detrás da Torre Eiffel, disse até breve à cidade com o delicado e persistente sabor da Borgonha na boca.

Serviço

Ambassade de Bourgogne: Abre diariamente. 6 Rue de l’Odéon.Tel. 4354-8004. ambassadedebourgogne.com

Les Climats: Abre para almoço e jantar, de terça-feira a sábado. 41 Rue de Lille. Tel. 5862-1008. lesclimats.fr

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