sexta-feira, 17 de maio de 2013

Com "Gatsby", Festival de Cinema de Cannes abre em grande estilo

Para a apresentação de "O grande Gatsby" compareceram o superstar Leonardo DiCaprio e o diretor australiano Baz Luhrmann, que deu nova vida ao célebre romance.

Devido ao mau tempo, havia muitos guarda-chuvas na estreia de O grande Gatsby. As vicissitudes meteorológicas do cotidiano nem sempre combinam com o glamour da abertura do Festival de Cannes, o mais importante festival de cinema do mundo, que teve início nesta quarta-feira (15/05) com a apresentação do filme estrelado por Leonardo DiCaprio.

O grande Gatsby retrata festas e riqueza, o sonho da felicidade material, fama e dinheiro, em suma, os encantos superficiais do mundo. Isso combina com Cannes. E o cinema? Não foi sempre uma grande máquina de sonhos? Sendo assim, os organizadores não puderam encontraram filme melhor que O grande Gatsby para abrir o Festival de Cinema de Cannes deste ano.

Festas: no cinema e em Cannes
Após a estreia do filme, uma imensa tenda foi palco da festa de abertura. A distribuidora americana Warner Bros. convidou e 600 vips vieram. Uma festa de 1 milhão de euros, organizada para um círculo fechado da alta sociedade cinematográfica. Mesmo assim, o gala da abertura não deve ter se equiparado aos excessivos festivos mostrados anteriormente na tela. O grande Gatsby, um abrangente romance de apenas 200 páginas escrito por F. Scott Fitzgerald, é considerado um clássico moderno da literatura. É também um livro sobre o amor, mas principalmente sobre as festas do "sonho americano".

O livro conta a história de um jovem misterioso, que vive com seus milhões numa mansão que mais se parece com um castelo, na costa de Long Island, e promove festas inesquecíveis – também para ganhar o amor de uma mulher que havia cobiçado no passado.

Como esse homem, que é chamado simplesmente de Gatsby, conseguiu chegar a tanto dinheiro permanece um mistério até o final. Espalham-se boatos sobre suas ligações com o submundo. Em torno dessa figura mítica, Fitzgerald tece uma trama simples sobre a riqueza e o amor, ciúmes e assassinato. O livro se sustenta na maestria estética do estilo e na construção do texto, já que a trama não oferece nada mais que uma história de fofocas.

A atração do dinheiro

Ainda assim, não há nada de paradoxal no fato de o romance ter se tornado uma referência na literatura, desde que foi lançado em meados da década de 1920. O livro procura, principalmente, registrar a ânsia das pessoas pela fortuna e os riscos que estão dispostos a correr para alcançá-la. De um jeito fascinante, o livro também deixa claro o encanto e a sedução da riqueza. Fitzgerald conta sua história com ironia e distância, mas não tem medo de mostrar o quão sedutor é todo aquele luxo.

O livro já foi levado três vezes à tela. A versão mais conhecida é a com Robert Redford no papel principal, de 1974. Agora, o diretor australiano Baz Luhrmann se aventurou numa nova versão. Mostrar a atualidade do texto foi seu principal estímulo: "Um clássico surge por meio da transposição temporal e geográfica de todas as fronteiras, tornando-se significativo em todos os lugares e em todas as épocas", afirmou Luhrmann em entrevista, acrescendo que "isso se deve ao fato de as histórias terem algo humano e atemporal para contar. Nós reconhecemos isso novamente nos personagens".

Luhrmann: clássico vira pop

No romance, Gatsby é alguém que "absorveu intensamente as promessas da vida e que foi cheio de esperanças". O personagem-título do romance fascina até hoje. Esse fascínio foi utilizado por Luhrmann, que embebeu a trama de uma atualidade duradoura. Embora ele seja fiel ao romance e mostre uma história que se passa na Nova York dos anos 1920, por outro lado o diretor dá a ela um aspecto moderno.

A trilha sonora foi assinado pelo famoso rapper americano Jay-Z, pela cantora Beyoncé (os dois são um casal) e por outras megaestrelas como Lana del Rey. O filme consiste de centenas de cortes rápidos, intercalados de forma compacta e montados sem muitas ligações. Movimentos selvagens de câmera se alternam com inúmeros efeitos digitais. Além disso, tudo foi filmado em tecnologia 3D.

Os sonhos permaneceram

"Queríamos transmitir aos espectadores a impressão de viver naqueles tempos incrivelmente modernos, quando o mundo acabava de nascer, e todos eram jovens, belos, bêbados, loucos e ricos e vivenciaram tudo isso", declarou o roteirista Craig Pearce. Assim, não é difícil para os espectadores entender as referências frente ao aqui e agora. O contraste entre ricos e pobres, o sonho de ascensão: todos esses temas são válidos ainda hoje, mesmo que sob outras circunstâncias. Mas a vista do Palácio dos Festivais em Cannes sobre os milionários iates luxuosos aportados na baía azul mostra claramente a atualidade do livro quase centenário.

Em Nova York, a equipe se ocupou intensamente com aquela época, principalmente com o setor financeiro, os títulos hipotecários e os mercados de ações, afirmou o roteirista Pearce sobre o trabalho de pesquisa para as filmagens. Substituindo a palavra "título hipotecário" por "fundos de hedge", fica claro por que o filme de Luhrmann é atual.

Fitzgerald constatou um corte fundamental no arcabouço moral da década de 1920, afirmou o diretor. O boom econômico da época não podia prosseguir tão facilmente como antes. A atual versão cinematográfica de O grande Gatsby é naturalmente uma metáfora da recente crise financeira mundial. "Tenho a impressão de que O grande Gatsby tem algo a dizer ainda hoje – mais do que nunca", disse o produtor Douglas Wick.

Reações contidas ao filme

Em Cannes, o filme de abertura, no entanto, angariou somente reações contidas na apresentação para a imprensa, antes da estreia noturna. E também nos EUA, onde O grande Gatsby estreara já há alguns dias nos cinemas, as críticas foram antes negativas. Tudo isso não pôde estragar, naturalmente, o bom humor da equipe no tapete vermelho em frente ao Palácio dos Festivais.

DiCaprio, a protagonista do filme Carey Mulligan, o diretor Luhrmann – todos vieram apresentar pessoalmente o filme. E a chuva forte no início irritou só temporariamente. Como sempre acontece em Cannes, a tempestade de flashes foi admirável, os fãs gritaram por autógrafos. Assim começou a festa de 12 dias na Côte D'Azur.

(Artigo publicado pela Deutsche Welle em 17.05.2013)


Festa inebriante também no filme de abertura do Festival de Cinema de Cannes 2013
Um amor fugidio: Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan
Baz Luhrmann dirigindo 'O grande Gatsby'
Antes da chuva: a equipe de 'O grande Gatsby' posa para as câmeras

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